domingo, 9 de janeiro de 2011
A Serenata
" Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim .
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos :
ou viro doida ou santa .
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia ,
os cabelos entristecidos ,
a pele assaltada de indecisão .
Quando ele vier , porque é certo que vem ,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude ?
A lua , os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece .
De que modo vou abrir a janela , senão for doida ?
Como a fecharei , se não for santa ?
Adélia Prado
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