segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

NATALIA GINZBURG

Jean  Paul Nacivet 

Conheci a escritora italiana Natalia Ginzburg  ( 1916-1991) ,
 através do livro   " As  Pequenas Virtudes " que ganhei neste
mês de fevereiro .
Não poderia  ter sido presente melhor .
É a reunião de  onze  ensaios publicados em jornais e
revistas  entre  1944  a 1962.
O livro é dividido em duas partes sendo que na  primeira 
há a descrição de  seus deslocamentos e suas impressões .
Na segunda parte ,  ela nos apresenta textos  com um apelo 
mais pessoal , falando de sua relação com a escrita 
 e com as pessoas .  
Textos curtos  que nos colocam  entre a crueza do cotidiano 
e  acontecimentos que redefinem  a relação do ser humano
com a vida . 
Ser exilada , passar por privações , sobreviver
a uma guerra .
Escritos após a morte de seu  primeiro marido , 
Leone Ginzburg ,os ensaios não recaem em tom sentimental
  mas há neles a lucidez de quem sofreu , 
tem seus filhos  para cuidar e precisa seguir adiante . 
Partilho com vocês  algumas  linhas  do ensaio que dá 
título ao livro .

" No que diz respeito à educação dos filhos , 
penso que se deva ensinar a eles não as pequenas virtudes ,
mas as grandes .
Não a poupança , mas a generosidade  e a indiferença ao
dinheiro ; não a prudência , mas a coragem e o desdém 
pelo perigo ; não a astúcia , mas a franqueza e o amor 
à verdade ; não a diplomacia , mas o amor ao próximo 
e a abnegação ; não o desejo de sucesso , mas o desejo de
ser e de saber . 
No entanto fazemos frequentemente o contrário :
apressamo-nos  a ensinar o respeito
 pelas pequenas virtudes , 
fundando sobre elas  todo o nosso sistema educativo .
Deste modo , escolhemos a via mais cômoda : porque as
pequenas virtudes  não apresentam  nenhum perigo
material , ao contrário , nos mantêm ao abrigo dos 
golpes de sorte . Descuidamos de ensinar as grandes 
virtudes , apesar de amá-las , e gostaríamos que nossos 
filhos  as assimilassem : mas nutrimos a confiança  de
que elas emergirão  espontaneamente  de seu espírito ,
num dia futuro , considerando-as  de natureza instintiva ,
ao passo que as outras , as pequenas ,  nos parecem fruto
de reflexão  e cálculo , e por isto pensamos que
devem ser absolutamente  ensinadas . 
Na verdade a diferença é só aparente .
As pequenas virtudes provêm igualmente  do fundo
do nosso instinto , de um instinto de defesa : mas nelas 
a razão fala , sentencia , disserta , como um brilhante 
advogado  da integridade pessoal .
As grandes virtudes  jorram de um instinto em que 
a razão não fala , um instinto ao qual me seria difícil 
dar um nome . E o melhor de nós está neste instinto
mudo , e não em nosso instinto de defesa , que argumenta ,
sentencia  e disserta com a voz da razão ."


in , As pequenas virtudes "

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