sexta-feira, 27 de maio de 2011
Canção
“ No desequilíbrio dos mares ,
as proas giram sozinhas ...
Numa das naves que afundaram
é que certamente tu vinhas .
Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto ,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto.
Quando as ondas te carregaram
meus olhos , entre águas e areias ,
cegaram como os das estátuas ,
a tudo que existe alheias .
Minhas mãos pararam sobre o ar
e endureceram junto ao vento ,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.
E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim :
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim .”
Cecília Meireles
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