sábado, 3 de dezembro de 2011
Fabrício Carpinejar
" Uma mulher não perdoa uma única coisa
no homem: que ele não ame com coragem.
Pode ter os maiores defeitos, atrasar-se para os
compromissos, jogar futebol no sábado
com os amigos,soltar gargalhada de hiena,
pentear-se com franjinha,ter pêlos nas costas
e no pescoço,usar palito de dente,
trocar os talheres de um momento para outro.
Qualquer coisa é admitida,
menos que não ame com coragem.
Amar com coragem não é viver com coragem.
É bem mais do que estar aí.
Amar com coragem não é questão de estilo,
de gosto, de opinião.
Não se adquire com a família,
surge de uma decisão solitária.
Amar com coragem é caráter.
Vem de uma obstinação que supera a lealdade.
Vem de uma incompetência de ser diferente.
Amar para valer, para dar torcicolo.
Não encontrar uma desculpa ou um pretexto
para se adaptar, para fugir, para não nadar
até o começo do corpo.
Não usar atenuantes como “estou confuso”.
Não se diminuir com a insegurança,
mas se aumentar com a insegurança.
Não se retrair perante os pais.
Não desmarcar um amor pela amizade.
Não esquecer de comentar pelo receio
de ser incompreendido.
Não esquecer de repetir pela ânsia da claridade.
Amar como se não houvesse tempo de amar.
Amar esquisito, de lado, ainda amar.
Amar atrasado, com a respiração
antecipando o beijo.
Amar com fúria, com o recalque
de não ter sido assim antes.
Amar decidido, obcecado,
como quem troca de identidade
e parte a um longo exílio.
Amar como quem volta
de um longo exílio.
(…) Amar com coragem, só isso."
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