sexta-feira, 22 de julho de 2016

A CASA

Yuri Obuhovskiy

" Sei  dos filhos 
pelo modo como ocupam a casa :
uns buscam os recantos ,
outros existem à mesa .

A uns satisfaz  uma sombra ,
a outros  nem o mundo basta .
Uns batem com a porta ,
outros hesitam como se não houvesse saída .

Raras vezes , sou pai .
Sou sempre todos os meus filhos ,
sou  a mão indecisa  no fecho ,
sou a noite passada entre relógio e escuro .

Em mim ecoa a voz 
que , à entrada , se anuncia : cheguei !
E eu sorrio , de resposta : chegou ?
Mas  se nunca ninguém partiu ...

E tanto em mim 
demoram as esperas 
que me fui trocando por soalho 
e me converti em sonholenta  janela .

Agora , eu mesmo sou a casa ,
essa infatigável casa 
a que meus filhos
eternamente regressam . "

Mia Couto ,
in " Poemas  Escolhidos "

Som  na  caixa ...   

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16 comentários:

  1. O poema do Mia Couto é belíssimo, ele
    é um escritor adorável, original e
    um encantamento com as palavras que
    nos fascina na leitura dos seus livros.
    O vídeo é uma ternura...
    Adorei passar aqui, minha amiga.
    Sempre grata pela tuas partilhas!
    Um final de semana luminoso e alto
    astral para ti!
    Beijos.

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  2. Que poema bonito de Mia Couto. E parabéns a você pela sensibilidade.

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    1. Muito obrigada , Carlos .
      Postar Mia Couto me alegra .
      Beijos

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  3. Sabe uma coisa, Marisa? Mia Couto, de janelas (e portas) abertas ao mundo, parece ter a sabedoria dum ancião. E sempre, sempre, com os afectos a tiracolo.
    Mais uma grande postagem. Fico-lhe grato.

    Desejo-lhe uma semana inspirada :)

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    1. AC , Mia Couto na sua escrita aborda o ser e a dor e alegria de nossa existência , não é ?
      Beijos

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  4. Um belo poema e é sempre um prazer ouvir Joe Cocker.
    Um abraço e continuação de uma boa semana.
    Andarilhar

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    1. Bom que tenha lhe agradado ,Francisco .
      Fico contente .
      Abraços

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  5. Respostas
    1. Simone , apareça sempre .
      Faço com carinho as escolhas .
      Beijos

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  6. Olá, querida Marisa, que trazes Mia Couto, que amo, de paixão - raras são as vezes que não tenho uma de suas obras à mão - amo especialmente os contos com cheiro de Moçambique, que eu, sem conhecer, sei logo reconhecer ;)
    Este poema diz tanto do que é ser pai/ mãe... acrescentar para quê?
    Essa música é linda!

    bjn amg

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    1. Carmem, também sou apaixonada pela obra de Mia Couto . Suas metáforas , a delicadeza na escrita , sua sensibilidade .
      Também penso que o poema nos reflete de forma clara .
      Beijos e agradecida por vir me visitar .

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  7. Querida Marisa,

    Voltando aqui na tua casa (virtual),
    que é um espaço de arte muito apreciado
    por mim, esta nossa sintonia "aquariana"
    a nos (re)ligar no mesmo voo do sentir
    da literatura, arte e música.
    Grata por todas as partilhas aqui e
    continuarei sempre no voo da leitura!...
    Deixo meu abraço de paz e amizade
    na tua alma.
    Desejo toda luz e inspiração
    a envolver os teus dias, minha amiga.
    Beijo.
    Suzete Brainer.

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  8. Concordo com você Suzete .
    Mia Couto nos encanta sempre , seja nos romances, contos e poemas .
    Beijos e obrigada pela visita .

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  9. Suzete , estive no seu belíssimo blog e não pude comentar seus poemas . Não sei o motivo de inexistir mais esta possibilidade .
    Saudades . Beijos

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  10. Marisa, o nosso Mia é único; na sensibilidade, no esventramento do ser humano, na reinvenção da língua e na peculiaridade do modo de pôr prosa ou verso o seu pensamento.
    Eis aqui um exemplo...
    ADORO!!!
    BJOS :)

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  11. Odete , também sou apaixonada pela escrita do Mia . Beijos

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