sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Lya Luft
( ...)
" O meu é o reino das palavras :
aqui tudo pode ser dito- a cada um
cabe inventar os significados ,
interpretar as charadas , preencher
os silêncios .
Este é o lugar do impalpável que a
muitos incomoda :
são os que fecham meus livros
sem ler ,sacodem a cabeça -
e não entenderão .
Porque eu falo para os da minha
raça : os que além de racionais são
também ilógicos , os bem estabelecidos
que amam o imprevisível , os que na
margem completa enxergam mais do que
isso e não tem com quem compartilhar .
Por isso atuam nos palcos ou nos
computadores ou nos ateliês , ou
simplesmente vagam alertas pela sua
casa quando os outros ancoraram no sono .
Sentindo-se guerreira ou mendiga ,
insuficiente ou esplêndida -
esta que escreve não sou eu ,
mas algo que transborda dos meus
contornos como o mar transbordava de
uma concha naquela mão , na dourada infância .
E minha alma , esse cavalo alado ,
inocente menina ou feiticeira perversa ,
fará deste novelo de caos e luz o seu
porto de partida , num sopro desenrolando
infinitamente o nome que é todos os nomes
e é a minha alegria :
Vidaminhavidaminhavidaminha ..."
in, " Mar de dentro "
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