No livro " Secreta mirada e outros poemas " ,
Lya Luft nos diz :
" Intercalei entre os poemas pequenos trechos
em prosa , só porque este jogo me agrada ."
Canção da Alheia Primavera
" Algo se aproxima , alguma coisa nova
no pedaço de caminho que vemos pela
frente começa a nos intrigar .
Saímos do casulo em que andamos enfiados,
botamos a cabeça fora para enxergar melhor,
mas pode ser apenas uma fantasia .
Alguém - ou alguma coisa -
pronuncia o nosso nome .
A alegria pode ser uma ameaça ,
e a gente se esconde outra vez
com medo de ter-se enganado.
Para que arriscar uma nova perda ,
um novo machucado onde as velhas feridas
não sararam direito ?
Melhor voltar a dormir . "
Poema :
Canção da Alheia Primavera
" Talvez se agite um braço me chamando :
mas tão longe , nem se move
as névoas da ausência .
Quando achei que era tempo , não era
quando apanhei a estrela , passava
um vaga-lume qualquer entre meus dedos .
Talvez desça um navio me procurando
mas não quero viagens:
sou um pálido coral numa água morna ,
e vagamente aflora um movimento
- mas pode ser a sombra do meu sono .
Talvez haja um amor me inventando,
mas tão vago , nem roça
as beiras da minha praia : concha breve
e encolhida , não vou desenrolar
o meu abraço .
Quando achei que era tempo , não era :
talvez este ondular entre meus ramos
venha de uma alheia primavera ."
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