domingo, 22 de novembro de 2020

VALTER HUGO MÃE

Pascal  Roy 


Partilho com vocês trechos do  belíssimo  conto
de Valter Hugo Mãe ,
 " As mais belas coisas  do mundo " . 


" O meu avô sempre dizia que o melhor 
da vida  haveria de ser ainda um mistério e
que o importante era seguir procurando .
Estar vivo é procurar explicava 

( ... )

Eu sei que ele queria chamar a atenção 
para a importância de aprender .
Explicava  sempre que aprender  é mudar de conduta ,
fazer melhor . Elogiava insistentemente o cuidado .
Era um detive de interiores , queria dizer , 
inspecionava  sobretudo sentimentos .
Quando lhe perguntei porquê ,  ele respondeu  que
só assim  se falava verdadeiramente  acerca da 
felicidade .

( ... )

 Eu  queria ser sagaz , ter perspicácia , estar inspirado . 
Meu  avô  pedia  que não me  desiludisse .
Quem se desilude morre por dentro .
Dizia  : é urgente viver encantado .
O encanto é a única cura possível para a 
inevitável  tristeza . Era fundamental  sabermos  que 
aconteceria  e que implicaria uma força maior .

( ... )

Perguntou-me  quais seriam as coisas mais
belas do mundo .
Eu não soube o que dizer .
Pensei que poderiam ser o fim do sol ,
o mar , a rebentação no inverno ,
a muita chuva ,  o comportamento dos cristais ,
a cara das mulheres , o circo , os cães e os lobos ,
as casas  com chaminés .
Ele sorriu e quis saber se não haviam  de ser  
a amizade , o amor , a honestidade e a generosidade ,
o ser-se  fiel ,  educado ,  o ter-se respeito por cada pessoa .
Ponderou se o mais belo do mundo  não seria fazer-se 
o que se sabe  e pode para  que a vida de todos seja melhor .

Pasmei  diante de seu conceito de beleza . "

Som  na  caixa ...