Pascal Roy
Partilho com vocês trechos do belíssimo conto
de Valter Hugo Mãe ,
" As mais belas coisas do mundo " .
" O meu avô sempre dizia que o melhor
da vida haveria de ser ainda um mistério e
que o importante era seguir procurando .
Estar vivo é procurar explicava
( ... )
Eu sei que ele queria chamar a atenção
para a importância de aprender .
Explicava sempre que aprender é mudar de conduta ,
fazer melhor . Elogiava insistentemente o cuidado .
Era um detive de interiores , queria dizer ,
inspecionava sobretudo sentimentos .
Quando lhe perguntei porquê , ele respondeu que
só assim se falava verdadeiramente acerca da
felicidade .
( ... )
Eu queria ser sagaz , ter perspicácia , estar inspirado .
Meu avô pedia que não me desiludisse .
Quem se desilude morre por dentro .
Dizia : é urgente viver encantado .
O encanto é a única cura possível para a
inevitável tristeza . Era fundamental sabermos que
aconteceria e que implicaria uma força maior .
( ... )
Perguntou-me quais seriam as coisas mais
belas do mundo .
Eu não soube o que dizer .
Pensei que poderiam ser o fim do sol ,
o mar , a rebentação no inverno ,
a muita chuva , o comportamento dos cristais ,
a cara das mulheres , o circo , os cães e os lobos ,
as casas com chaminés .
Ele sorriu e quis saber se não haviam de ser
a amizade , o amor , a honestidade e a generosidade ,
o ser-se fiel , educado , o ter-se respeito por cada pessoa .
Ponderou se o mais belo do mundo não seria fazer-se
o que se sabe e pode para que a vida de todos seja melhor .
Pasmei diante de seu conceito de beleza . "
Som na caixa ...