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terça-feira, 20 de agosto de 2019

130 ANOS DE CORA CORALINA

Jinchul  Kim 

Nesta terça feira , 20 de agosto ,  Cora Coralina ,
pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto
Bretas , completaria 130 anos .
A mulher que estudou apenas até a terceira série
do curso primário  se tornou o maior nome da 
literatura goiana e uma das mais admiradas 
poetas brasileiras , apesar de estrear na carreira 
aos quase 76  anos .
Compartilho com vocês o belo poema , 
  MEU  DESTINO 

" Nas palmas de tuas mãos 
leio  as linhas da minha vida .
Linhas cruzadas , sinuosas 
interferindo no teu destino .
Não te procurei , não me procurastes -
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes , cruzamos 
Passavas com o fardo da vida ...
Corri ao teu encontro ,
Sorri  . Falamos .
Esse dia foi marcado 
com a pedra branca 
da cabeça de um peixe .
E , desde então , caminhamos
juntos pela vida ..." 

Som  na  caixa ...


  

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

ANINHA E SUAS PEDRAS

Christian Schloe
 
" Não  te  deixes  destruir ...
Ajuntando  novas  pedras
e construindo  novos  poemas .
 
Recria tua vida , sempre,sempre .
Remove  pedras  e  planta  roseiras  e faz doces .Recomeça .
 
Faz  de  tua  vida  mesquinha
um  poema .
E  viverás  no  coração  dos  jovens
e na  memória  das  gerações que hão de vir .
 
Esta  fonte  é  para  uso de todos os sedentos .
Toma  a  tua  parte .
Vem  a  estas  páginas
e não entraves  seu  uso
a quem tem sede ."
 
Cora  Coralina

terça-feira, 15 de maio de 2012

MEU DESTINO


 " Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.
Não te procurei, não me procurastes –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida...
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca
da cabeça de um peixe.
E, desde então, caminhamos
juntos pela vida... "


Cora Coralina

sexta-feira, 20 de abril de 2012

SEMENTE E FRUTO



"Despojada. Apedrejada.
Sozinha e perdida nos caminhos incertos da vida.
E fui caminhando, caminhando...
E me nasceram filhos.
E foram eles, frágeis e pequeninos,
carecendo de cuidados,
crescendo devagarinho.
E foram eles a rocha onde me amparei,
anteparo à tormenta que viera sobre mim.
Foram eles, na sua fragilidade infante,
postes e alicerces, paredes e cobertura,
segurança de um lar
que o vento da insânia
ameaçava desabar.
Filhos, pequeninos e frágeis...
eu os carregava, eu os alimentava?
Não. Foram eles que me carregaram,
que me alimentaram.
Foram correntes, amarras, embasamentos.
Foram fortes demais.
Construíram a minha resistência.
Filhos, fostes pão e água no meu deserto.
Sombra na minha solidão.
Refúgio do meu nada.
Removi pedras, quebrei as arestas da vida
e plantei roseiras.
Fostes, para mim, semente e fruto.
Na vossa inconsciência infantil.
Fostes unidade e agregação."


Cora Coralina

domingo, 25 de março de 2012

Coração é terra que ninguém vê



" Quis ser um dia , jardineira

de um coração .

Sachei , mondei - nada colhi .

Nasceram espinhos

e nos espinhos me feri .


Quis ser um dia , jardineira

de um coração .

Cavei , plantei .

Na terra ingrata

nada criei .


Senhor da Parábola ...

Lancei a boa semente

a gestos largos ...

Aves do céu levaram .

Espinhos do chão cobriram .

O resto se perdeu

na terra dura

da ingratidão .


Coração é terra que ninguém vê

- diz o ditado .

Plantei , reguei , nada deu, não .

Terra de lageado , de pedregulho ,

- teu coração .

Bati na porta de um coração.

Bati. Bati . Nada escutei .

Casa vazia . Porta fechada ,

foi o que encontrei ."


Cora Coralina

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Cora Coralina



A procura

" Andei pelos caminhos da vida.

Caminhei pelas ruas do destino -

procurando meu signo .

Bati na porta da Fortuna,

mandou dizer que não estava .

Bati na porta da Fama ,

falou que não podia atender .

Procurei a casa da Felicidade ,

a vizinha da frente me informou que

ela tinha se mudado sem deixar novo endereço.

Procurei a morada da Fortaleza

Ela me fez entrar :

deu-me veste nova , perfumou meus cabelos ...

fez-me beber de vinho .

Acertei o meu caminho ."

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Bem - te- vi ...



" Que terás visto ?

Há quanto tempo tu avisas , bem-te-vi ...

Bem-te-vi da minha infância , sempre a gritar

sempre a contar , fuxiqueiro ,

e não viste nada .


Meu amiguinho , preto-amarelo.

Em que ninho nasceste , de que ovinho vieste ,

e quem te ensinou a dizer : Bem-te-vi ? ...

Bem te vejo , queria eu também cantar e repetir

para ti : Bom dia , bem te vejo , te escuto .

Bem -te- vi sobrevivente

de tantos que já não voam sobre o rio ,

nem pousam nas palmas dos coqueiros altos ...


Mostra para mim , meu velho companheiro


de uma infância ultrapassada ,

tua casa , tua roça , teu celeiro , teu trabalho,

tua mesa de comer , tuas penas de trocar ,

leva-me à tua morada de amor a procriar .

Vamos ao altar de Deus agradecer ao criador

não desaparecerem de todo os Bem-te-vis

dos Reinos de Goiás .


Canta para mim , tão antiga como tu ,

as estorinhas do passado.

Bem-te-vi inzoneiro ,malicioso e vigilante .

Conta logo o que viste , fuxiqueiro do espaço ,

sempre nas folhas dos coqueiros altos ,

que também vão morrendo devagar


como morrem os coqueiros ,

comidos de velhice e de lagartas ."



Cora Coralina


segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Não sei ...



" Não sei ... se a vida é curta ...

Não sei ...

Não sei ...

se a vida é curta

ou longa demais para nós .


Mas sei que nada do que vivemos

tem sentido ,

se não tocarmos o coração das pessoas.


Muitas vezes basta ser :

colo que acolhe ,

braço que envolve ,

palavra que conforta ,

siêncio que respeita ,

alegria que contagia ,

lágrima que corre ,

olhar que sacia ,

amor que promove.


E isso não é coisa do outro mundo:

é o que dá sentido à vida .


É o que faz com que ela

não seja nem curta ,

nem longa demais ,

mas que seja intensa ,

verdadeira e pura ...

enquanto durar ."


Cora Coralina

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Cora Coralina : Todas as vidas




" Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau olhado ,
acocorada ao pé do borralho ,
olhando para o fogo .
Benze quebranto .
Bota feitiço ...
Ogum . Orixá .
Macumba , terreiro .
Ogã , pai-de-santo ...

Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho .
Seu cheiro gostoso
d'água e sabão .
Rodilha de pano .
Trouxa de roupa ,
pedra de anil .
Sua coroa verde de são-caetano .

Vive dentro de mim
a mulher cozinheira .
Pimenta e cebola .
Quitute bem feito .
Panela de barro .
Taipa de lenha .
Cozinha antiga
toda pretinha
Bem cacheada de picumã .
Pedra pontuda .
Cumbuco de coco .
Pisando alho-sal .

Vive dentro de mim
a mulher do povo .
Bem proletária .
Bem linguaruda ,
desabusada , sem preconceitos ,
de casca grossa ,
de chinelinha ,
e filharada .

Vive dentro de mim
a mulher roçeira .
- Enxerto da terra ,
meio casmurra .
Trabalhadeira .
Madrugadeira .
Anafabeta .
De pé no chão .
Bem parideira .
Bem criadeira .
Seus doze filhos .
Seus vinte netos .

Vive dentro de mim
a mulher da vida .
Minha irmãzinha ...
tão desprezada ,
tão murmurada ...
Fingindo alegre seu triste fado .


Todas as vidas dentro de mim :
Na minha vida -
A vida mera das obscuras ."



in , " Poemas dos becos de Goiás e estórias mais ."