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sexta-feira, 11 de julho de 2014

WALY SALOMÃO

WALY  DIAS  SALOMÃO , baiano da cidade   de
Jequié , nasceu em 1943 
 e morreu  no Rio de Janeiro em 2003 .
Ícone  da contracultura  brasileira , ganha  um volume 
com toda  sua obra  reunida .
Poesia  Total  ,
 além dos livros  de Waly , 
reúne letras  inéditas e textos críticos   de
 Antonio Cícero , Francisco Alvim ,
Heloísa  Buarque de Holanda , entre outros .
O resultado contextualiza  historicamente 
 a obra  do poeta 
e dá a dimensão do seu gênio criativo . 

Escolhi partilhar com vocês  o poema Sargaços 
 que ele dedicou à Maria Bethânia 
 e que tem a epígrafe do poeta Rumi .
Também , no som da caixa  a música Mel
tem letra de Waly Salomão
e  música de Caetano Veloso .

Espero  que gostem .
Beijos .


photo  Net 

Sargaços 

Para  Maria Bethânia 

" Fatalismo significa dormir entre salteadores "
Jalâl  al -Din  al-Rumi , poeta  sufi


" Criar  é não se adequar  à vida  como ela é ,
Nem  tampouco  se  grudar às  lembranças pretéritas 
Que  não sobrenadam mais .
Nem  ancorar à beira-cais estagnado ,
Nem  malhar  a batida bigorna à beira-mágoa .

Nascer  não é antes , não é ficar  a ver  navios ,
Nascer  é depois , é nadar após  se afundar  e se afogar .
Braçadas  e mais  braçadas  até  perder  o fôlego .
( Sargaços  ofegam o peito opresso ),
Bombear gás do tanque de reserva localizado em algum ponto
Do corpo 
E não parar  de  nadar ,
Nem que se morra na praia  antes de alcançar o mar .

Plasmar 
bancos de areia , recifes de corais , ilhas , arquipélagos , baías ,
espumas  e salitres ,
ondas  e  maresias .

Mar  de  sargaços 

Nadar , nadar , nadar  e  inventar  a viagem , o mapa ,
o astrolábio  de  sete  faces ,
O zumbido dos ventos em redemunho , o leme , 
as velas , as cordas   .

Os  ferros , o júbilo  e  o  luto .
Encasquetar-se na captura da canção que inventa Orfeu 
Ou  daquela outra  que conduz  ao  mar  absoluto .

Só   e outros poemas 
Soledades 
Solitude , récif  , étoile .

Através  dos  anéis escancarados pelos velhos horizontes 
Parir ,
desvelar ,
desocultar  novos horizontes .
Mamar  o leite  primevo , o colostro ,  da Via Láctea .
E , mormente ,
remar  contra  a maré  numa  canoa  furada 
Somente
para  martelar  um padrão estoico-tresloucado 
De  desaceitar  o naufrágio .
Criar  é  se  desacostumar  do fado fixo 
E ser  arbitrário .

                                   Sendo  os  remos imaterias .

                                             (Remos figurados    no  ar 
                                                         pelos  círculos  das  palavras .)  "

Som    na  caixa ...