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Matilde Campilho é uma jovem poeta portuguesa ,
nascida em Lisboa no ano de 1982 .
Desde 2010 vive entre o Rio de Janeiro onde trabalhou
como jornalista e redatora , e Lisboa .
No período de 2010 a 2013 ,
publicou seus primeiros poemas,
em jornais de São Paulo e Rio de Janeiro .
e escreveu seu primeiro livro " Jóquei " ,
publicado em Portugal , em 2014 .
Partilho com vocês excertos de um poema
que muito gosto , Fevereiro .
" Escute só ,
isto é muito sério !
O mundo está tremendamente esquisito .
( ... )
O amor é um animal tão mutante ,
com tantas divisões possíveis .
Lembra daqueles termômetros
que usávamos na boca
quando éramos pequenininhos ?
Lembra da queda deles no chão ?
Então !
Acho que o amor quando aparece
é em tudo semelhante
à forma física do mercúrio no mundo .
Quando o vidro do termômetro se quebra ,
o elemento químico se espalha
e então fica se dividindo
pelos salões de todas as festas .
Ah é ! eu gosto de você !
A luz entrou torta
por nós a dentro , mas olha ,
eu gosto de você !
( ... )
De que lado você está ,
eu não me importo !
De que garfo você come ?
de que copo você bebe ?
que posto certo você escolhe ?
qual seu orixá ?
seu partido ?
sua altura ?
de qual de suas cicatrizes você cuida ?
que pássaro você prefere ?
quem é seu pai ?
qual é seu samba ?
Pinoit noir ou Chardonay ?
que protetor você usa ?
qual é sua pele ?
seu perfume ?
qual político ?
quantos amores você sonha ?
em que Fernando ?
em que Ofélia ?
em que cinema ?
em que bandeira ?
em que cabelo você mora ?
Qual dos túneis de Copacabana ?
Reze para seus santos quando atravessar .
( ...)
Escuta , isso é sério !
Andamos crescendo juntos ,
distraidamente .
( ...)
Não sei nada sobre a paixão ,
suspeito que você também não .
Mas , começo a entender
que o compasso da fé
está mudando a passos largos .
Dois pra lá e dois pra cá .
Portanto , escute .
Isto é muito sério !
Isto é uma proposta aos trinta anos .
Agora que o mercúrio
assumiu sua posição certa ,
vem comigo achar
o meu trono mágico
entre a folhagem .
E , no caminho até lá
vem dançar comigo , vem ! "
Matilde Campilho
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