terça-feira, 25 de novembro de 2014

MANOEL DE BARROS


Sempre  foi grande minha admiração pelo nosso poeta
mato-grossense  Manoel de Barros , falecido há 12 dias . 
Estava  com 97 anos  e , nas palavras  de sua neta ,
 Joana de Barros :
" Ele  estava muito debilitado , muito  velhinho .
Ele descansou .  Ele virou passarinho ".

Seleciono trecho ,que gosto bastante, do seu
livro " Memórias  Inventadas- A Infância ".

" Eu tenho um ermo enorme dentro do olho .
Por motivo do ermo  não fui um menino peralta .
Agora tenho saudade do que não fui .
Acho que o que faço agora é o que não pude
fazer na infância .
Faço outro tipo de paraltagem .
Quando eu era criança devia pular muro 
do vizinho  para catar goiaba .
Mas  não havia vizinho .
Em vez de peraltagem eu fazia solidão .
Brincava de fingir que pedra era lagarto .
Que lata era navio .
Que sabugo  era um serzinho mal resolvido
e igual a um filhote de gafanhoto .
Cresci brincando no chão , entre formigas .
De uma infância livre e sem comparamentos .
Eu tinha mais comunhão com as coisas que
comparação . Porque se a gente fala  a partir
de ser criança , a gente faz comunhão :
de um orvalho e sua aranha , de uma tarde 
e suas garças , de um pássaro  e sua árvore .
Então eu trago de minhas raízes crianceiras 
a visão comungante e oblíqua das coisas .
Eu sei dizer  sem pudor que o escuro me ilumina .
É  um paradoxo   que ajuda a poesia e eu falo
sem pudor .
Eu tenho que esta visão oblíqua  vem de eu 
ter sido criança em algum lugar perdido
onde havia transfusão da natureza e 
comunhão com ela .
Era o menino e os bichinhos .
Era o menino e o sol .
O menino e o rio .
Era o menino e as árvores ."

Som  na  caixa ...





domingo, 9 de novembro de 2014

CÂNTICOS

Anie  Stege 

Cânticos  reúne  vinte e seis  poemas   de
Cecília Meireles , todos eles de caráter 
intimista   e introspectivo , alguns com mote
vinculado à eternidade e à autodescoberta .

Cântico  XIII

" Renova-te  em ti mesmo ,
Multiplica os teus olhos ,
para  verem mais .
Multiplica os teus braços 
para semeares tudo .
Destrói os olhos que tiverem visto .
Crie outros , para as visões novas .
Destrói os braços que tiverem semeado ,
para se esquecerem de colher .
Sê  sempre o mesmo .
Sempre  outro .
Mas  sempre  alto .
Sempre longe .
E  dentro de tudo ."

Cecília  Meireles  

Som   na  caixa ...


.