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quinta-feira, 21 de setembro de 2017

VEM CHEGANDO A PRIMAVERA

imagem da net 


O início da primavera ,  aqui no hemisfério sul , 
 começa  às 17:02  do dia 22 de setembro de 2017
 e termina em 21 de dezembro de 2017 .

Partilho com vocês poema de Flora Figueiredo ,
 Vem Chegando a Primavera  .

"  Destampo o silêncio ,
recolho o recato ,
escondo meus medos embaixo  da sola do sapato .

Guardo o calmante no armarinho ,
dobro o resguardo ,
afrouxo o botão do colarinho .

Ponho para quarar meu coração,
desidratado de tanto chorar .

Varro a calçada
das dores de antigas madrugadas ,
abro a porta da frente .

Se alguém tiver um sorriso pra me dar ,
por favor , que venha .
Limpe os pés e se apresente ." 

Som  na  Caixa ...



sexta-feira, 9 de setembro de 2016

ENGUIÇO

Anna e Elena Balbusso 

" Eis uma amor que  bate à porta
em hora  imprópria .
Ousado ,  liga a lâmpada frouxa  ,
joga a trouxa de roupa ainda manchada 
do sangue das costas lanhadas .
Impõe cadeado no portão ,
como se não fosse sair mais ,
caminha decidido sobre minha paz .
Esse temido amor de hora errada
já vem assobiando pelo corredor .
O trinco da porta  é fraco
e não sustenta ;
a oração é rala e pouco aguenta ,
o medo é pequeno e permissivo .
A tal amor que chega inoportuno ,
eu me condeno .
Porque me condeno me sinto vivo ."

Flora Figueiredo ,
in  " Amor a céu aberto "

Som na caixa ...


sexta-feira, 23 de maio de 2014

RETIRADA

Michael   Solovyev 

" Respeite  o silêncio
a omissão
a ausência .
É meu movimento  de deserção.
Abandonei  o posto,
rompi a corda ,
desacreditei de tudo .
Cansei de esperar  que finalmente um dia ,
minha fotografia 
fizesse jus ao seu criado-mudo "

  in , " Calçada de Verão "
Flora Figueiredo 
poeta ,cronista e tradutora ,
nascida em São Paulo , em 1951 .

Som  na  caixa ...   


quarta-feira, 8 de maio de 2013

GANGORRA

Ron  Hicks
 
" eu colho a maçã ,
você traz  a lagarta ;
 
eu rego o ipê ,
você parte o galho ;
 
eu tempero com sal ,
você talha o molho ;
 
eu lavo o cristal ,
você trinca a ponta ;
 
eu adoço com mel ,
você passa do ponto ;
 
eu beijo na boca ,
você faz de conta ."
 
Flora Figueiredo ,
in " Chão de Vento "
 
Som na  caixa ...
 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

AO LEITOR DESCONHECIDO

Santiago  Carbonell
 
" Ele não sabe quem sou ,
de onde venho ,
o que faço , o que tenho ,
onde quero chegar .
Conhece só minha linguagem ,
que dispensa miçangas , paetês ,
bugigangas  de brilho ,
vidrilhos , colchetes , ilhoses ,
eternos algozes da ideia ,
que mantém  longe da plateia ,
numa torre  isolada .
Nada  sabe de mim  e , no entanto ,
hoje  é para ele que escrevo ,
que desenho meu canto em autorrelevo .
Somos capazes da mesma luta ,
do mesmo  pôr-de-mar ,
quando o sol vai prevaricar ,
tonto de estrelas  ;
somos parceiros de acampar dentro de flores ,
provar  de seus licores ,
sem nem sequer comprometê-las .
A esse meu par desconhecido
vale curiosa informação
de que não tenho olhos azuis
( discutivelmente  verdes como prêmio de consolação ),
não  sei nadar , nem falo alemão .
Um dia ainda aprendo a cozinhar .
Só se pode considerar um modo certo :
continuo a escrever porque o preciso perto ,
companheiros de mundo até morrer ."
 
 
Flora  Figueiredo ,
in " Amor  a céu aberto "

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

DESPEDIDA

Christine Peloquin
 
" Se tiver  que  ir ,
vai .
O que fica para trás ,
não sendo mentira ,
não racha ,
nem rompe ,
não cai .
Ninguém tira .
Já que vai,
segue se depurando pelo trajeto,
para desembarcar passado a limpo ,
sem máscara ,
sem nada ,
sem nenhum desafeto .
Quando chegar ,
sobe ao ponto mais alto do lugar ,
onde a encosta  do mundo
faz a curva  mais pendente .
Então acena .
De onde eu estiver , quero enxergar
esse momento em que você vai constatar
que a vida vale grandemente a pena ."
 
Flora Figueiredo ,
in " Amor a Céu Aberto "

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Trancos , planícies e barrrancos

Anna  e Elena Balbusso
 
" Terrenos  acidentados e planos
vêm escrevendo a minha  história .
Alguns danos sei de cor ,
outros , a memória jogou fora .
Dos sucessos , guardo agora
fitas , flores ,e fatos ,
sorrisos  no porta-retratos ,
um rosto suando a conquista .
( Página dupla pra qualquer revista .)
Envelheço em todo fevereiro,
que prefiro receber de frente,
que costumo sentir de corpo inteiro .
Quando chegar  minha data final ,
que se transcreva em minha cripta :
Intensamente , amou e viveu .
Felizmente não morreu invicta ."
 
Flora Figueiredo ,
in " Amor  a Céu Aberto "
 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

ENGUIÇO

Zindy S.D.Nielsen
 
" Eis  um amor  que  bate  à  porta
em  hora  imprópria .
Ousado , liga a lâmpada frouxa ,
joga a trouxa de roupa ainda manchada
do sangue das costas lanhadas.
Impõe  cadeado  no  portão ,
como se não fosse  sair  mais ,
caminha  decidido sobre minha  paz .
Esse  temido  amor de hora  errada
já  vem  assobiando  pelo  corredor .
O  trinco  da  porta  é  fraco
e  não sustenta ;
a  oração  é  rala e pouco  aguenta ,
o  medo  é  pequeno  e permissivo .
A tal  amor  que  chega  inoportuno,
eu  me  condeno .
Porque  me  condeno é que me sinto  vivo ."
 
 
Flora  Figueiredo ,
in  "  Amor  a  céu  aberto ' 

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

TEOREMA

 
" Alguma  coisa saiu  errada
na  minha  Matemática .
Não  sei  se  foi  excesso  de  poesia ,
dose  demais  de  fantasia ,
ou  simplesmente  falta de prática .
Tenho certeza  que  somei ,
multipliquei   pra  dividir
em partes  justamente  desiguais .
Subtraí só  de  mim ,
pra  que  pudesse lhe  caber  um  tanto  a  mais .
Quando chego ao final  da operação ,
não  consigo decifrar o que ocorreu .
A  soma  partiu , saiu  devedora .
O  resultado :  noves  fora , eu ."
 
 
Flora  Figueiredo , in " Amor  a  céu  aberto "  

INSTRUÇÕES DE USO

 
"  O coração do poeta  tem bordas  flácidas .
Ele  derrama , vaza , descamba .
O coração  do poeta  tem  a  perna  bamba .
Constituição  frágil  e  congênita .
Não  adianta querer  vitaminá-lo  ,
pois  seu tônus  se  refaz  nos frêmitos
das  chegadas  e  dos  abandonos .
O   melhor  é  deixar-se  amar
e, se possível , não  deixar  de  amá-lo ."
 
 
Flora  Figueiredo , in " Amor  a céu  aberto " 

sábado, 2 de junho de 2012

Poema de hoje ...


"Na dúvida, faça.
O risco faz parte.
A graça está em tentar,
em vez de sentar e assistir;
O mundo está em esticar-se todo para atingir;
O mundo está no desafio da interrogação:
E porque não?
Entre na festa,
Arranque a capa,
Morda a maçã.
Desate o cinto para voar livre pelo amanhã,
ainda que ele seja um labirinto.
Deixe o ID rolar,
Nesta arte viva de arriscar,
cônscio e devoto.
Pois que viver não é entrar no mar onde dá pé,
Mas mergulhar com fé no maremoto.

Flora Figueiredo

quarta-feira, 23 de maio de 2012

ADMINISTRANDO


" Não  quero  escrever  um  livro

a  respeito

 de  cada  amor imperfeito

que  me  aconteceu ;

não  quero  musicar

toda vez  que  uma  alegria  se  perdeu ;

não quero  decorar  a  parede

com  desencanto  ou  nostalgia .

Prefiro  admitir  a  flor

e  a pétala  que  possa   cair

para  magoar  o  meu  cenário .

Sei  que todo peito é permeado de contrários ,

que  em  todo  jogo  pode  haver  uma  derrota .

Rabisco  apenas   a  minha  nota  de rodapé :

"  Não  é  só  de  vitórias   que  se  escreve

uma  verdadeira  história  de  mulher ."


Flora  Figueiredo 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

QUARESMEIRAS



"As Quaresmeiras têm um trato com Deus:
surgem após o carnaval,
um momento antes da Paixão,
prevendo mudança de comportamento.
Sem muita convicção,
cobrem-se de paramentos;
variam entre o roxo e o rosa
numa inconstância entre o casto e o pagão.
Nem sempre cristãs, nem sempre melindrosas,
procuram ser pontuais.
Serviçais redondas e floradas,
polvilham de pétalas e rotina das calçadas
a mesmice preguiçosa dos pardais."

Flora Figueiredo

sexta-feira, 9 de março de 2012

BOM - SENSO



" Hoje não vou ,

que é dia ruim de decisão :

o ninho apareceu cheio de ovos ,

o vaso me presenteou com botões novos ,

a lua fez alongamentos verdes sobre o mar .

Dia de emoção não é dia de ir .

Quem sabe amanhã amanhece chovendo

e eu fico matemática ."



Flora Figueiredo , in " Chão de Vento "

sábado, 21 de janeiro de 2012

Fax



" Avise ao mundo que estou para chegar .

Peça a ele para guardar

um pedaço do azul de amanhã cedo ,

que a nuvem vai crescendo

e eu tenho medo ;

para aguar as flores que puder salvar

do corte da enxada e seus horrores ;

adoçar o bico da passarinhada

que ainda tiver chance de voar ,

( do pavão ao tico-tico ).

Parece que o sol

anda pleiteando uma polida

para me dar como presente a luz do dia .

Não sei se tenho esse direito ,

mas já que venho ,

bem que gostaria .

Se conseguir achar um tanto de água pura ,

que a deixe preservada

para eu poder ver como se lava a febre ,

como se embebe a racha da secura .

Segure um resto de manhã

que acorda com perfume de roseira ,

saborosa de alecrim .

Não sei quanto tempo vão deixar isso

pra mim ,

até que a terra escureça inteira

ou que a beleza embace por completo .

Mas , vou chegando de qualquer maneira .

Se me vê inquieto ,

é pelo prenúncio da chegada , já tão perto .

Para garantir a minha entrada

nesse ato louco , nesse palco incerto ,

estou contando ansiosamente com você .

Até daqui a pouco .

Um bebê


Flora Figueiredo ,

in " Amor a céu aberto "


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Persistência



"Sofro pela espera longa e infundada ,

pela flecha que saiu sem dar em nada ,

pelo remo que quebrou sem navegar ,

pela rocha que tombou , partiu-se ao meio

e brotou pedras onde eu quis colher centeio

pela manhã que amanheceu sem se deitar .


Escuto a cotovia que insinua

que o cravo morreu, mas a terra continua .


Bendigo o chão por cada grão e me comovo.

Parto de novo ."


Flora Figueiredo

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Fronteira



" Sou capaz de fazer florescer

quantas flores você desejar

e lhe dar uma a toda hora ,

a cada dia ,

o ano inteiro .

A reflora é permanente

desde que você não tente avançar .

Evite pisar no meu canteiro ."


Flora Figueiredo ,

in " Amor a céu aberto "

sábado, 30 de julho de 2011

Inevitável



" Se não fosse a beleza ,

seria a graça ;

se não fosse a graça ,

seria a doçura ;

se não a doçura ,

quem sabe ? - a simpatia ,

ou até , talvez - quem diria !

apenas a risada .

Mas mesmo que não fosse nada ,

ainda assim ,

seria ."


Flora Figueiredo

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Compensação



“ Faz parte das nossas andanças

as mudanças que o tempo faz :

se o mundo já nos olha menos ,

seguramente ele nos ouve mais .”



Flora Figueiredo

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Vivência


“ Se sua rua porventura aparecer

coberta de pétalas caídas

pela inclemência

de um vento qualquer ,

não faça nada .

Deixe-a assim desordenada

descabida .

São reticências que sobraram da estação passada .

Acabarão varridas pela própria vida ."




Flora Figueiredo