quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

FELIZ ANO NOVO

Danielle  Richards 

Neste último dia de um ano tão conturbado , venho 
desejar a vocês , amigos queridos , coragem e esperança
neste 2021 que se aproxima .
Que tenhamos saúde  e que possamos voltar  a abraçar sem medo .
Que a  ilha de doçura existente em nossos   espaços continue
com muita poesia  e sonhos .
Deus abençoe  todos nós .
Feliz  Ano Novo !

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segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

O MENINO VEM CHEGANDO ...

Mark  Arian 

Meus queridos amigos ,

Neste ano difícil  de pandemia cremos que 
a vinda do Menino Jesus nos traga esperança
em dias melhores .
Desejo a todos e às famílias   um feliz e abençoado  Natal .
Beijos  em cada um  .

Marisa 

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quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

CENTENÁRIO DE CLARICE LISPECTOR


Hoje , 10 de dezembro , se a grande  e sensível 
escritora estivesse viva completaria 100 anos .
Parabéns !

Partilho com vocês  a crônica " Doar  a si próprio " ,
contida num dos  meus preferidos livros dela , 
" A Descoberta  do Mundo ".

"  Tenho lidado  com problemas de enxerto de pele ,
fiquei sabendo  que um banco de doação de pele não é 
viável , pois esta sendo alheia , não adere por muito tempo
à pele do enxertado .
É necessário que a pele do paciente  seja tirada de outra
parte  de seu corpo , e em seguida  enxertada  no lugar
necessário . Isto quer dizer que no enxerto  há uma
doação de si para si mesmo .
Esse caso me fez devanear um pouco sobre o número
de outros  em que a própria pessoa tem que doar a
si própria . O que traz  solidão , e riqueza e luta .
Cheguei a pensar na bondade que é tipicamente  o 
que se quer receber dos outros - e no entanto  às vezes
só a bondade que doamos a nós mesmos  nos livra
da culpa e nos perdoa .
E  é também, por exemplo ,  inútil receber a aceitação
dos outros , enquanto nós mesmos  não nos doarmos
a auto aceitação  do que somos .
Quanto à nossa fraqueza , a parte mais forte nossa
é que tem de nos doar ânimo e complacência .
E há certas dores  que só a nossa própria dor ,
se for aprofundada ,  paradoxalmente  chega a amenizar .
No amor felizmente  a riqueza está na doação mútua .
O que não  significa que não haja  luta : 
é preciso se doar o direito de receber amor .
Mas lutar é bom .
Há dificuldades que só por serem dificuldades 
já esquentam o nosso sangue , que este felizmente 
pode ser doado .
Lembrei-me de outra doação a si mesmo :
o da criação  artística . Pois em primeiro lugar 
por assim dizer tenta-se tirar a  própria pele 
para enxertá-la onde é necessário .
Só depois de pegado o enxerto  é que  vem 
a doação aos outros .
Ou é tudo já misturado , não sei bem ,  a criação 
artística  é um mistério que me escapa , felizmente .
Não quero saber muito ." 

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domingo, 22 de novembro de 2020

VALTER HUGO MÃE

Pascal  Roy 


Partilho com vocês trechos do  belíssimo  conto
de Valter Hugo Mãe ,
 " As mais belas coisas  do mundo " . 


" O meu avô sempre dizia que o melhor 
da vida  haveria de ser ainda um mistério e
que o importante era seguir procurando .
Estar vivo é procurar explicava 

( ... )

Eu sei que ele queria chamar a atenção 
para a importância de aprender .
Explicava  sempre que aprender  é mudar de conduta ,
fazer melhor . Elogiava insistentemente o cuidado .
Era um detive de interiores , queria dizer , 
inspecionava  sobretudo sentimentos .
Quando lhe perguntei porquê ,  ele respondeu  que
só assim  se falava verdadeiramente  acerca da 
felicidade .

( ... )

 Eu  queria ser sagaz , ter perspicácia , estar inspirado . 
Meu  avô  pedia  que não me  desiludisse .
Quem se desilude morre por dentro .
Dizia  : é urgente viver encantado .
O encanto é a única cura possível para a 
inevitável  tristeza . Era fundamental  sabermos  que 
aconteceria  e que implicaria uma força maior .

( ... )

Perguntou-me  quais seriam as coisas mais
belas do mundo .
Eu não soube o que dizer .
Pensei que poderiam ser o fim do sol ,
o mar , a rebentação no inverno ,
a muita chuva ,  o comportamento dos cristais ,
a cara das mulheres , o circo , os cães e os lobos ,
as casas  com chaminés .
Ele sorriu e quis saber se não haviam  de ser  
a amizade , o amor , a honestidade e a generosidade ,
o ser-se  fiel ,  educado ,  o ter-se respeito por cada pessoa .
Ponderou se o mais belo do mundo  não seria fazer-se 
o que se sabe  e pode para  que a vida de todos seja melhor .

Pasmei  diante de seu conceito de beleza . "

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sábado, 31 de outubro de 2020

118 º ANIVERSÁRIO de DRUMMOND

Anna e Elena Balbusso 

" Além  da terra , além do céu 
no trampolim  do 
sem-fim das estrelas ,
no rastro dos astros ,
na magnólia  das nebulosas .
Além , muito além do sistema solar 
até onde alcançam o pensamento 
e o coração ,
 vamos !
vamos conjugar o verbo
 fundamental  essencial ,
o verbo transcendente ,
acima das gramáticas 
e do medo e da moeda e da política ,
o verbo sempre amar ,
o verbo pluriamar ,
razão de ser de viver . "

Carlos Drummond de Andrade 

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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

DENTRO DE UM ABRAÇO ...


imagem da net 

Nesta pandemia  , que falta nos faz um abraço 
queridos amigos .
Republico  trecho de crônica  da escritora 
Martha Medeiros que ressalta  a importância
de abraçarmo-nos .

( ... )

" Onde , afinal , é o melhor lugar do mundo ?
Meu palpite : dentro de um abraço .
Que lugar  melhor para uma criança , 
para  um idoso , para uma mulher apaixonada , 
para um adolescente  com medo , para um doente ,
para alguém solitário ?
Dentro de um abraço é sempre quente ,
é sempre seguro .
Dentro de um abraço não se ouve 
o tic-tac  dos relógios e , se faltar luz , tanto melhor.
Tudo o que você pensa e sofre  , dentro de um 
abraço  se dissolve .
Que lugar melhor  para um recém-nascido , 
para um recém chegado , para um recém demitido ,
para um  recém contratado ?
Dentro de um abraço  nenhuma situação é incerta ,
o futuro não amedronta , 
 estacionamos confortavelmente em meio ao paraíso .
O rosto contra o peito de quem te abraça  , 
as batidas do coração dele e as suas ,
o silêncio  se faz durante esse  envolvimento físico :
não há nada para se reinventar  ou agradecer ,
dentro de um abraço voz nenhuma se faz  necessária ,
está tudo dito . "

Martha Medeiros , in " feliz por nada "        

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domingo, 27 de setembro de 2020

CELEBRAÇÃO

 

Hoje esta menininha , minha filha ,
Fernanda , faz aniversário .
Para os pais os filhos nunca crescem 
porque vemos neles  a pureza , 
alegria e vivacidade da infância 
e somos gratos .
Este ano será sem festa que ela
sempre adorou .
Entretanto , nossos desejos
são os mesmos : 
saúde , sucesso , viagens e amor 
com as bençãos de Deus .
Beijos e abraços de todos nós .
Viva você !

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quinta-feira, 17 de setembro de 2020

O ALFABETO NO PARQUE



David  Lee Thompson 


" Eu   sei escrever . 
Escrevo cartas , bilhetes , lista de compras ,
composição escolar narrando o belo passeio 
à fazenda de vovó que nunca  existiu 
porque ela era pobre como Jó . 
Mas escrevo também coisas inexplicáveis: 
quero ser feliz , isto é amarelo .
E não consigo , isto é dor .
Vai-  te  de mim , tristeza , sino gago ,
pessoas dizendo entre soluços :  
" não aguento mais ".
Moro num lugar chamado globo terrestre
onde se chora mais 
que o volume das águas denominadas mar ,
para onde levam os rios outro tanto de lágrimas .
Aqui se passa fome . Aqui se odeia .
Aqui se é feliz , no meio de invenções  miraculosas .
Imagine que uma dita roda gigante 
propicia passeios  e vertigens 
entre luzes , música , namorados em êxtase .
Como é bom ! De um lado os rapazes .
De outra as moças , eu louca para casar
e dormir  com meu marido no quartinho 
de uma casa antiga com soalho de tábua .
Não há como não pensar na morte ,
entre tantas delícias , querer ser eterno .
Sou alegre e sou triste , meio a meio .
Levas tudo a peito , diz minha mãe ,
dá uma volta , distrai-te , vai ao cinema .
A mãe  não sabe , cinema é como dizia o avô :
" cinema é gente passando .
Viu uma vez , viu todas ."
Com perdão da palavra , quero cair na vida .
Quero ficar no parque , 
a voz do cantor açucarando  a tarde ...
Assim escrevo : tarde . Não a palavra .
A coisa . "

Adélia Prado 

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domingo, 30 de agosto de 2020

A VIDA E O TEMPO

Imagem  da net 

" O dia em que o sol nasce
é o mesmo dia em que o sol morre .

A manhã : a luz, o nascimento 
A tarde :  a morte , a sombra .

E  no intervalo ,
eu .

Eu em processo , nascendo
e morrendo 
ao mesmo tempo 
deslumbrado e aturdido .

E sem nada saber que  isto se chama vida ,
esse encanto de luz , 
essa espera  de sombras ,
esse  saber  que  ignora  que nem o sol  nasce
nem morre .

É o tempo que passa .
Sou eu , que o tempo vai levando ."

Daniel Lima 
in , Poemas 

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terça-feira, 18 de agosto de 2020

BEM NO FUNDO

Esau  Andrade 

"  No  fundo , no fundo ,
Bem lá no fundo ,
A gente gostaria 
De ver nossos problemas
Resolvidos por decreto 

A partir desta data ,
Aquela mágoa sem remédio
é considerada nula 
 e sobre ela -silêncio perpétuo 

Extinto por lei todo o remorso
Maldito seja quem olhar para trás ,
Lá pra trás não há nada ,
E nada mais .

Mas problemas não se resolvem ,
Problemas tem família grande ,
E aos domingos saem todos  a passear 
O problema , sua senhora 
E outros pequenas probleminhas "

Paulo Leminski 

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quarta-feira, 29 de julho de 2020

A BRUXINHA DE PANO

Jinchul  Kim 

" Perguntei com raiva : Porque logo comigo ?
Tanta gente no mundo , tantos caminhos e itinerários ,
porque aquela moça , cismara de escolher um descaminho ,
um autêntico  fim de picada , um homem terminal que ,
na realidade , nem sequer começara ?
Ela contou uma história que parecia inventada  na hora ,
atribuindo-a a uma amiga .
Decidi aceitá-la , embora sem acreditar nela .
Como num daqueles contos  de Dickens , a história tinha início
num Natal .  A menina  pedira uma boneca de porcelana ,
sonhou com a boneca toda a noite ; quando acordou encontrou
ao seu lado uma bruxinha de pano .
Um monstrinho simpático , de pano preto , com a carne de 
algodão  cheia de caroços , os olhos eram duas linhas
vermelhas em forma de X .
A menina estranhou , teve vontade de chorar , mas acabou
aceitando a bruxinha .
Aos poucos se apaixonou por ela .
Tudo de bom ou de mau que lhe acontecia , a menina contava
para a bruxinha e a bruxinha entendia sua dor ou sua alegria .
Entendia até mesmo quando ela não tinha nada ,
nem dor nem alegria .
A menina cresceu ; quando casou levou a bruxinha consigo .
O marido reclamava , dormia com a mulher , mas a mulher 
dormia agarrada à bruxinha de pano . 
O marido viajou , foi à feira de Leipzig  onde comprou 
uma boneca de porcelana , coisa  finíssima  ,  
de olhos azuis que abriam e fechavam ,
 cabelos que pareciam de ouro . 
A mulher continuou  agarrada à bruxinha .
O marido se encheu e foi embora .
Ela chorou um pouco , mas logo sorriu :
a bruxinha continuava com ela .
Bem , a história é meio enigmática , nem chega a ser
bonita nem  muito original .
Com medo de ter entendido errado , perguntei se a moça
me considerava uma bruxinha de pano .
Respondeu que não .
A bruxa de pano era ela .
Queria apenas que dormissem com ela todas as noites . "

Carlos Heitor Cony      

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sexta-feira, 17 de julho de 2020

POEMA DE HOJE ...

Karen  Hollingsworth 

" Quando pensei que estava  tudo  cumprido ,
havia outra surpresa :  mais uma curva do
rio ,  mais riso , mais pranto .

Quando calculei que tudo estava pago ,
anunciaram-se  novas dívidas e juros ,
o amor e o desafio .

Quando achei que estava serena ,
os caminhos se espalmaram
como dedos de espanto 
em cortinas  aflitas .

E eu espio  ainda que o olhar seja grande
e a fresta pequena . "

Lya Luft ,
in  " O tempo é um rio que corre "

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quinta-feira, 2 de julho de 2020

PAI , dizem-me que ainda te chamo ...

Joahanna  Harmon 

" Pai , dizem-me que ainda te chamo , às vezes ,
durante o sono - a ausência  não te apaga 
como a bruma sossega , ao entardecer ,
o gume das esquinas .
Há nos meus sonhos  um território suspenso 
de toda a dor , um país de verão  aonde não chegam
as guinadas da morte  e todas as conchas da praia
trazem pérolas .
Aí nos encontramos , para dizermos  um ao outro 
aquilo que pensamos ter , afinal , a vida toda 
para dizer ;  aí te chamo , quando a luz me cega 
na lâmina do mar , com lábios que se movem
como serpentes , mas sem nenhum ruído  que 
envenene as palavras : pai , pai .
Contam-me depois que é deste lado da noite 
que me ouvem gritar  e que por isso me libertam
bruscamente do cativeiro  escuro desse sonho .
Não sabem que o pesadelo  é a vida onde já
não posso dizer o teu nome - porque a memória 
é uma fogueira  dentro das mãos  e tu onde
estás não me respondes . "

Maria do Rosário Pedreira 
in , " Nenhum Nome Depois "

A página de hoje é uma republicação 
dedicada ao meu pai que há 08 anos
nos deixou .
Quanta  saudade ...

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segunda-feira, 8 de junho de 2020

CLARICE , mais uma vez

Jean Paul Avisse 

Benjamin Moser , na sua obra " CLARICE ," 
nos conta : 
À medida que se aproximava do
fim da vida , suas lembranças de um tempo
mais feliz , a infância , assomavam à consciência 
com crescente insistência . 
Num esboço de  Água Viva  ela escreveu : 
" Estou agora na corda bamba por não estar
escrevendo direito .
 É porque estou escondendo uma coisa .
 Contarei : comprei uma boneca para  mim .
Para dormir comigo .
Não tenho senão um pouco de vergonha .
Mas em menina eu queria tanto uma
boneca bonita . 
Só tinha aquelas  pequenas e feitas
de trapos. 
Recheadas de macela ou palha .
Eu tinha tanto amor para dar .
E agora meu amor foi tão grande 
que se tornou compulsivo .
Ela é linda .
Já a beijei e abracei .
Durmo agarrada com ela .
Eu animo os objetos .
Ela fecha os olhos azuis quando fica
em estado horizontal .
Só não herdou meus cabelos  que são
macios de fazer aflição : os dela são
brilhantes e ásperos .
Chama-se Laura .
E estou tendo menina -
pois só tive filho homem .
É tão doce .
Dei agora Laura para uma menina pobre 
porque queria ver uma menina feliz . "

In , " CLARICE , " , páginas 477-478

Som  na  caixa ...

segunda-feira, 18 de maio de 2020

NASCIMENTO ...

foto  na maternidade 

" Brilhar para sempre ,
brilhar como um farol ,
brilhar com brilho eterno ,
Gente é para brilhar ,
que tudo o mais vá para o inferno ,
Este é meu slogan e o do sol "

Vladimir Mayakovsky 
( tradução Augusto de Campos )

A página de hoje é do Felipe , meu filho ,
que nasceu num 18 de maio  , há 36 anos ,
depois de uma gravidez de risco onde
 ambos nos salvamos .
Nesta pandemia não poderemos  celebrar junto dele .
Os beijos e abraços  de todos nós logo acontecerá .  
Muita saúde , amor , sucesso e luz para nunca 
deixar de brilhar  , com as bençãos de Deus .  

Som  na  caixa 


quinta-feira, 7 de maio de 2020

MAIO ...

Lauri Blank 

Nestes tempos de quarentena tenho feito várias
releituras e uma delas  sobre Clarice Lispector ,
 no livro " Clarice , " de Benjamin  Moser . 
Lembrei-me então , que no próximo dia 10 de
maio este blog  completará  10 anos , e que na
primeira publicação   a escrita de Clarice  estava
presente . 
Assim , republico suas palavras e aproveito
para desejar a todas as mães  que terão ,
 no próximo domingo seu dia  comemorado ,
 saúde , amor , paz e fé em dias melhores .
Beijo e abraço cada um de vocês , 
queridos amigos .

" Há três coisas para as quais eu nasci 
e para as quais eu  dou  minha vida .
Nasci para amar  os outros , nasci para
escrever e nasci para criar meus filhos .
O " amar os outros " é tão vasto que
inclui até  perdão para mim mesma ,
com o que sobra .
As três coisas são tão importantes 
que minha vida é curta para tanto .
Tenho que me apressar , o tempo urge .
Não posso perder um minuto do 
tempo que faz minha vida .
Amar os outros é a única salvação
individual que conheço : 
ninguém estará perdido  se  der amor 
e às vezes receber amor em troca . "

Clarice Lispector 
na crônica " As três experiências " 

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domingo, 12 de abril de 2020

terça-feira, 24 de março de 2020

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

NATALIA GINZBURG

Jean  Paul Nacivet 

Conheci a escritora italiana Natalia Ginzburg  ( 1916-1991) ,
 através do livro   " As  Pequenas Virtudes " que ganhei neste
mês de fevereiro .
Não poderia  ter sido presente melhor .
É a reunião de  onze  ensaios publicados em jornais e
revistas  entre  1944  a 1962.
O livro é dividido em duas partes sendo que na  primeira 
há a descrição de  seus deslocamentos e suas impressões .
Na segunda parte ,  ela nos apresenta textos  com um apelo 
mais pessoal , falando de sua relação com a escrita 
 e com as pessoas .  
Textos curtos  que nos colocam  entre a crueza do cotidiano 
e  acontecimentos que redefinem  a relação do ser humano
com a vida . 
Ser exilada , passar por privações , sobreviver
a uma guerra .
Escritos após a morte de seu  primeiro marido , 
Leone Ginzburg ,os ensaios não recaem em tom sentimental
  mas há neles a lucidez de quem sofreu , 
tem seus filhos  para cuidar e precisa seguir adiante . 
Partilho com vocês  algumas  linhas  do ensaio que dá 
título ao livro .

" No que diz respeito à educação dos filhos , 
penso que se deva ensinar a eles não as pequenas virtudes ,
mas as grandes .
Não a poupança , mas a generosidade  e a indiferença ao
dinheiro ; não a prudência , mas a coragem e o desdém 
pelo perigo ; não a astúcia , mas a franqueza e o amor 
à verdade ; não a diplomacia , mas o amor ao próximo 
e a abnegação ; não o desejo de sucesso , mas o desejo de
ser e de saber . 
No entanto fazemos frequentemente o contrário :
apressamo-nos  a ensinar o respeito
 pelas pequenas virtudes , 
fundando sobre elas  todo o nosso sistema educativo .
Deste modo , escolhemos a via mais cômoda : porque as
pequenas virtudes  não apresentam  nenhum perigo
material , ao contrário , nos mantêm ao abrigo dos 
golpes de sorte . Descuidamos de ensinar as grandes 
virtudes , apesar de amá-las , e gostaríamos que nossos 
filhos  as assimilassem : mas nutrimos a confiança  de
que elas emergirão  espontaneamente  de seu espírito ,
num dia futuro , considerando-as  de natureza instintiva ,
ao passo que as outras , as pequenas ,  nos parecem fruto
de reflexão  e cálculo , e por isto pensamos que
devem ser absolutamente  ensinadas . 
Na verdade a diferença é só aparente .
As pequenas virtudes provêm igualmente  do fundo
do nosso instinto , de um instinto de defesa : mas nelas 
a razão fala , sentencia , disserta , como um brilhante 
advogado  da integridade pessoal .
As grandes virtudes  jorram de um instinto em que 
a razão não fala , um instinto ao qual me seria difícil 
dar um nome . E o melhor de nós está neste instinto
mudo , e não em nosso instinto de defesa , que argumenta ,
sentencia  e disserta com a voz da razão ."


in , As pequenas virtudes "

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segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

AMOR BASTANTE

Gustav  Klimt  

"  quando eu vi você 
tive uma ideia  brilhante 
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante 
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante 

basta um instante 
e você tem amor bastante . "

Paulo Leminski 

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quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

LYA LUFT

Dorina  Costras 

"   O amor nos tira  o sono , nos tira do sério ,
tira o tapete debaixo dos nossos pés , 
mexe com medos aparentemente superados ,
mas também com insuspeitada generosidade
em nós .
Sabermos que tantas vezes  acaba - e isso é dor -
vai complicar nossa vida .
Mas alguma coisa pode aparecer :
amor , projeto , um sonho .
Podemos ter medo e simplesmente dizer não .
Mas podemos nos deixar  encantar : 
seremos , para sempre responsáveis por esta decisão ."

in , Secreta Mirada e outros poemas .

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sábado, 4 de janeiro de 2020

INFÂNCIA NÃO TEM CURA ...


Graziela  Rodo Boulanger


Neste  quarto  dia de 2020 ainda há tempo de lhes desejar
um novo ano de saúde , paz, sonhos ,  poesia e prosa 
que compartilhamos com alegria .
Feliz  Ano  Novo !
Beijos a todos 

" Infância não tem cura . Você disfarça ,
faz de conta  que passou ,  mas ela volta .
E a cada reencontro com a  criança  volta 
a perplexidade diante do mundo .

( ...) 

De onde vem o mito dourado da infância ?
Vem do ouro que reveste o mundo que nos aparece
com um brilho inédito .
Esse brilho  da vida nova em folha que só as crianças 
conhecem . Desse tempo infinito , sem passado e sem
futuro , esse presente perpétuo , pronto para ser vivido  ,
a cada minuto , quando quem morria eram os velhos ,
viravam estrelinhas e eram logo esquecidos .
Vem da aventura de descrever as nuvens que avançam
porque vão buscar  a noite , essa grande nuvem negra
que enche o céu quando chega a hora de dormir .
E o lago ,  como um buraco  grande que o homem
cavou . Vem da calma no conviver com os sonhos ,
aquelas imagens  que de dia ficam guardadas na 
cabeça  e de noite saem e pousam na beira da cama .
Vem do tempo em que o pensamento era uma vozinha
 que ficava lá atrás ...   "

Rosiska  Darcy de Oliveira 
in , " Pássaro Louco "


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