domingo, 22 de abril de 2012
Pablo Neruda
" Meu primeiro livro !
Sempre sustentei que a tarefa do escritor não
é misteriosa nem mágica , mas que , pelo menos
a do poeta , é uma tarefa pessoal , de benefício
público . O que mais se parece com a poesia é
um pão ou um prato de cerâmica ou uma madeira
delicadamente lavrada , ainda que por mãos
rudes . No entanto creio que nenhum artesão
pode ter , como o poeta tem , por uma única
vez durante a vida , esta sensação embriagadora
do primeiro objeto criado por suas mãos , com a
desorientação ainda palpitante de seus sonhos .
É um momento que não volta mais .
Virão muitas edições mais cuidadas e belas .
Chegarão suas palavras vertidas na taça de
outros idiomas como um vinho que cante
perfume em outros lugares da terra .
Mas esse minuto em que o primeiro livro sai ,
com tinta fresca e papel novo ,
esse minuto de arrebatamento e embriaguez ,
com som de asas que revoluteiam e
de primeira flor que se abre na altura
conquistada ,esse minuto é único
na vida do poeta ."
in , " Confesso que vivi"
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