Mark Keller
" O amor nunca morre de morte natural .
Anaïs Nin estava certa .
Morre porque o matamos ou o deixamos morrer .
Morre envenenado pela angústia .
Morre enforcado pelo abraço .
Morre esfaqueado pelas costas .
Morre eletrocutado pela sinceridade .
Morre atropelado pela grosseria .
Morre sufocado pela desavença .
Mortes patéticas , cruéis , sem obituário
e missa de sétimo dia .
Mortes sem sangramento . Lavadas .
Com os ossos e as lembranças deslocados .
O amor não morre de velhice , em paz com a cama
e com a fortuna dos dedos .
Morre com um beijo dado sem ênfase .
Um dia morno .
Uma indiferença .
Uma conversa surda .
Morre porque queremos que morra .
Decidimos que ele está morto .
Facilitamos seu estremecimento . "
Fabrício Carpinejar ,
in " Borralheiro "
Som na caixa ...