WALY DIAS SALOMÃO , baiano da cidade de
Jequié , nasceu em 1943
e morreu no Rio de Janeiro em 2003 .
Ícone da contracultura brasileira , ganha um volume
com toda sua obra reunida .
Poesia Total ,
além dos livros de Waly ,
reúne letras inéditas e textos críticos de
Antonio Cícero , Francisco Alvim ,
Heloísa Buarque de Holanda , entre outros .
O resultado contextualiza historicamente
a obra do poeta
e dá a dimensão do seu gênio criativo .
Escolhi partilhar com vocês o poema Sargaços
que ele dedicou à Maria Bethânia
e que tem a epígrafe do poeta Rumi .
Também , no som da caixa a música Mel ,
tem letra de Waly Salomão
e música de Caetano Veloso .
Espero que gostem .
Beijos .
photo Net
Sargaços
Para Maria Bethânia
" Fatalismo significa dormir entre salteadores "
Jalâl al -Din al-Rumi , poeta sufi
" Criar é não se adequar à vida como ela é ,
Nem tampouco se grudar às lembranças pretéritas
Que não sobrenadam mais .
Nem ancorar à beira-cais estagnado ,
Nem malhar a batida bigorna à beira-mágoa .
Nascer não é antes , não é ficar a ver navios ,
Nascer é depois , é nadar após se afundar e se afogar .
Braçadas e mais braçadas até perder o fôlego .
( Sargaços ofegam o peito opresso ),
Bombear gás do tanque de reserva localizado em algum ponto
Do corpo
E não parar de nadar ,
Nem que se morra na praia antes de alcançar o mar .
Plasmar
bancos de areia , recifes de corais , ilhas , arquipélagos , baías ,
espumas e salitres ,
ondas e maresias .
Mar de sargaços
Nadar , nadar , nadar e inventar a viagem , o mapa ,
o astrolábio de sete faces ,
O zumbido dos ventos em redemunho , o leme ,
as velas , as cordas .
Os ferros , o júbilo e o luto .
Encasquetar-se na captura da canção que inventa Orfeu
Ou daquela outra que conduz ao mar absoluto .
Só e outros poemas
Soledades
Solitude , récif , étoile .
Através dos anéis escancarados pelos velhos horizontes
Parir ,
desvelar ,
desocultar novos horizontes .
Mamar o leite primevo , o colostro , da Via Láctea .
E , mormente ,
remar contra a maré numa canoa furada
Somente
para martelar um padrão estoico-tresloucado
De desaceitar o naufrágio .
Criar é se desacostumar do fado fixo
E ser arbitrário .
Sendo os remos imaterias .
(Remos figurados no ar
pelos círculos das palavras .) "
Som na caixa ...
Linda escolha e não conhecia esse poema! beijos,tudo de bom,chica
ResponderExcluirBom ter gostado , Chica . Beijos
ExcluirGostei, claro.
ResponderExcluirE foi, além do resto, muito bom reencontrar Rumi.
Bem haja, Marisa :)
Se aprovou a escolha e reencontrou Rumi me deixa alegre , São . Beijos .
ExcluirMarisa, que post maravilhoso!
ResponderExcluirEste poema me comoveu profundamente e ouvir esta música linda foi um grande prazer.
Bjs e ótimo final de semana
Cristiane , o livro é uma sequência de belos e profundos poemas . Selecionei " Sargaços "
Excluirporque a mim também a vida é sinônimo de garra . Nadar , sempre . Fico feliz que uma médica psicanalista , sensível como você , tenha aprovado o post no seu todo . Beijos .
Oi amiga, não conhecia o poeta, mas adorei o poema. Bjinhos querida, é sempre um prazer vir aqui.
ResponderExcluirNádia , fico contente de ter lhe apresentado o Waly Salomão . Beijos .
ResponderExcluirCriar é não adequar-se à vida como ela é, é sobretudo desadequar-se. E nascer sempre foi antes de mais uma busca pelo ar que parece sempre fatar no momento nascimento.
ResponderExcluirCriar é sempre sair das normas estabelecidas, ser diferente e não igual, e tomar nas mãos o livre arbítrio.
Já conhecia o Waly Salomão, mas não este poema. E a referência a Rumi é excelente.
Belo também esse Mel na voz do Caetano.
Muito bom, Marisa!
xx
Laura , estou duplamente contente . Primeiro porque veio prestigiar meu espaço com suas precisas colocações . Depois , por ter retornado ao seu blog como todos seus seguidores esperavam . Obrigada . Beijos e bom domingo .
ResponderExcluirQue linda partilha.
ResponderExcluirDesconhecia o poeta e foi uma descoberta deveras agradável.
Muito obrigado.
beijo
Gratificante este retorno , Pérola . Obrigada . Beijos .
ExcluirOlá,boa noite, Marisa
ResponderExcluirsim, também, não conhecia bem Waly... adorei o belo poema dedicado à Mária Bethânia... concordo plenamente com ele, criar é romper com a mesmice, com a monotonia da vida,desacostumar-se do que se é, do que está... é nadar, nadar, nadar e "não parar de nadar , Nem que se morra na praia antes de alcançar o mar ."...bela partilha!
Obrigado pelo carinho,bela semana, beijos!
Nademos , sempre , Felisberto . Obrigada pela presença . Beijos .
ExcluirExcelente escolha, Marisa. Não conhecia e será sempre impossível ao comum dos mortais conhecer tudo o que gostaria. Contudo, entendo que fez a escolha adequada do poema, pois é bem representativo da visão do poeta. Basta-me referir os seguintes versos, pois eles são perfeitos como filosofia de vida (e eu partilho-a):
ResponderExcluir"Criar é não se adequar à vida como ela é"
"Criar é se desacostumar do fado fixo
E ser arbitrário .
Sendo os remos imaterias ." (Pelo sonho é que vamos, como escreve o nosso Sebastião da Gama)
Bjo, Marisa :)
Odete , seu sensível e culto olhar apontando Sebastião da Gama , ao ler o poema postado , elucida brilhantemente nosso caminhar , através do sonho . " Chegamos ? Não chegamos ? Partimos . Vamos . Somos . " Obrigada . Beijos e boa semana .
ResponderExcluirOlá Marisa!
ResponderExcluirDevo dizer que andei por aqui a vaguear e a aprender...pois diz o povo: aprender até morrer!
Para começar não conhecia o poeta baiano que nasceu 3 anos antes de mim.Acho o poema magnífico e bem demonstrativo da "garra" de Waly, um lutador! Agradeço a partilha.
.A voz de C. Veloso é sempre tão bom ouvir!
Um abraço.
Maria Emília , seja bem-vinda a este espaço , tão querido por mim . É muito bom conhecer gente e já sou seguidora de seus criativos blogs . Grande abraço .
ResponderExcluirGosto de tudo mas em especial da profundidade de Rumi...
ResponderExcluirRicardo , Waly soube embelezar ainda mais seu poema tendo a epígrafe de Rumi , não é mesmo ?
ExcluirBeijos
OI MARISA!
ResponderExcluirA MÚSICA EU CONHECIA É CLARO POIS ACHO QUE TUDO QUE O CAETANO CANTA, CONHECEMOS, A POESIA, NUNCA A HAVIA OUVIDO, ACHEI LINDA TAMBÉM.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Zilani , quando os amigos gostam é muito prazeroso . Obrigada por ter vindo . Beijos
ExcluirExcelente
ResponderExcluirsendo certo que a vida não é como é
Nas entranhas palpitantes de Waly Salomão havia sempre um mar de sagas para a sua criação, por isso marinheiro estava sempre embarcadiço, sem nada que o detivesse, nadando e criando, chegando e partindo. Nunca deixou de escovar o convés sujo da sua embarcação, que se chamava Vida, para entendermos o que é o "criar". Parece que a terra nunca foi a sua praia porque os sargaços eram de outra natureza. Que bela escolha da sua Poesia Total, Marisa!
ResponderExcluirBeijos de admiração!
José Carlos , agradeço a generosa visita e o poético comentário . A admiração é recíproca , bem sabe . Beijos .
ExcluirContente que tenha gostado , Mar . Beijos .
ResponderExcluirExcelente! É grande poeta o Waly. Diferente, divergente, destoante. Beijos, Marisa.
ResponderExcluirAssim mesmo , Carlos . O poeta Waly Salomão , conforme Carlos Augusto Lima , espeta com agulhas finíssimas a bolha da conformidade . Gosto bastante de sua poesia . Obrigada por vir me visitar . Beijos
ResponderExcluirQuerida amiga
ResponderExcluirBom ver
que a morte pode ser vencida,
com as palavras
que continuam a levar
quem as escreveu,
rumo a outros corações...
Desejo para ti,
a vontade infinita de ser feliz,
amando de forma plena
cada segundo da vida,
sem ontens ou amanhãs,
mas com a certeza e as possibilidades
do presente...
Estes seus desejos me trazem tanta alegria , Aluisio . Muito obrigada . Beijos .
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirLinda homenagem para Bethânia, beijo Lisette.
ResponderExcluirConcordo , Lisette . Um poema dedicado a alguém é prova de bem querer . Beijos e grata por ter vindo .
ExcluirMuito bom, Marisa. Não conhecia. Adorei!
ResponderExcluirBeijo e BFS. D
http://acontarvindodoceu.blogspot.pt
Seu comentário é gratificante . Obrigada , MDRoque . Beijos .
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