terça-feira, 2 de outubro de 2012

BLACKOUT

 
"  Passo  a  noite  a  escrever .
Do lado de lá  da  rua
poderia alguém  me  ver ,
daquele  prédio  às  escuras ,
em  frente  ao meu , e  mais  alto .
Que voyeur  me espiaria ?
De  interessante , só faço
escrever . Ele  veria
decerto  a  parte  traseira
do  computador ; talvez ,
daquela  outra  janela  ,
avistasse , de viés ,
o lado esquerdo  da minha
face  de  perfil ; jamais
entretanto enxergaria
certos  versos  de  cristal
líquido  que , mal secreto
com o sal  do  meu  suor ,
já  anunciam  segredos
só  meus  e de algum leitor
que partilhará  comigo
o paraíso e o desterro ,
o pranto que vem do riso ,
o acerto que vem do erro .
Disso  tudo , meu vizinho
nem de longe desconfia .
Mas  e  se  ele , tendo  lido
meus lábios , que pronunciam
o que na tela está escrito ,
perceber-se  desterrado
não só do meu paraíso :
do meu desterro , coitado ?
E  se  ele  a  tudo atentar
e por inveja e recalque
me  der  um  tiro  de lá ?
Melhor  fechar o blackout ."
 
 
Antonio Cicero,
in   " Porventura "

8 comentários:

  1. Ola Mariza,interessantíssima esta poesia.Gostei demais.Uma ótima semana e meu abraço com muito carinho.SU.

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  2. Olá, Marisa... Poema complexa, eu tentou penetrar na sua mensagem, devido a problemas de tradução. Eu gostei da idéia do paraíso e exílio. Compartilhei com os leitores através de letras. Um bom dia para você e sua família! Com respeito.

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    1. A tradução da língua romena é difícil como já lhe afirmei em seu blog , Cristian. Mas , a gente tenta captar o significado principal , não é ?
      Na realidade , o que importa são as leituras que fazemos nos visitando .
      Obrigada . Grande abraço

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  3. A obra do Antonio Cicero me encanta , Suzane .
    Fico contente com a visita e espero mais canções no seu blog , amiga .
    Beijos

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  4. Muito inteligente este poema, Marisa e muito curioso quanto ao final. Gostei sim. Boa tarde de quarta-feira pra você. Beijos.

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    1. Vou postar mais poemas do Antonio Cicero . Obrigada pela visita .Espero ver mais telas suas em seu blog .
      Beijos , Valéria

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  5. Adorei o humor sutil, a ironia fina com que o autor trabalhou o tema. Um poema de sentimentos e intelectos, harmônicos, como uma música a qual sentimos, mais que ouvimos, tocar-nos.

    Marisa como sempre com um ótimo e refinado gosto, parabéns.

    Beijos

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  6. Danny , procuro escolher com carinho o que gosto para postar .
    É bom quando os amigos estão na mesma sintonia .
    Melhor ainda, quando nos elogiam.
    Obrigada .
    Beijos

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