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Saudades ! Tenho-as até do que me não foi
nada , por uma angústia de fuga do tempo e
uma doença do mistério da vida .
Caras que via habitualmente nas minhas ruas
habituais- se deixo de vê-las entristeço ; e não me
foram nada , a não ser o símbolo de toda a vida .
O velho sem interesse das polainas sujas que
cruzava frequentemente comigo
às nove e meia da manhã ?
O cauteleiro coxo que me maçava
inutilmente ?
O velhote redondo e corado
do charuto à porta da tabacaria ?
O dono pálido da tabacaria ?
O que é feito de todos eles , que , porque os vi
e os tornei a ver , foram parte da minha vida ?
Amanhã também eu me sumirei da Rua da Prata ,
da Rua dos Douradores , da Rua dos Fanqueiros .
Amanhã também eu - a alma que sente e pensa ,
o universo que sou para mim - sim , amanhã eu
também serei o que deixou de passar nestas ruas ,
o que outros vagamente evocarão com um
" o que será dele ?".
E tudo quanto faço , tudo quanto sinto ,
tudo quanto vivo ,
não será mais que um transeunte a menos
na quotidianidade de ruas de uma cidade qualquer . "
Bernardo Soares ,in " Livro do Desassossego "
Fragmento ,481
Marisa,
ResponderExcluirBelíssimo texto, hein. Muito bom mesmo.
Obrigado pelo destaque.
Beijos
Danny ,
ResponderExcluirGosto bastante do Livro do Desassossego e venho sempre postando Bernardo Soares .
Fico contente que tenha apreciado e me visitado .
Beijos
Bom dia, bons pensamentos de Bucareste! Desejo-lhe um ótimo dia com seus entes queridos. Com a poesia na alma.
ResponderExcluirObrigada , Cristian . Vc sempre gentil , poeta . Bjs
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