domingo, 31 de maio de 2015

ENCONTRO

Aldo  Balding 

" Ele  não  apareceu .
Talvez tenha adoecido ou ficado debaixo
de um eléctrico .
Talvez  outra pessoa se pusesse na conversa com ele .
Talvez  se tenha esquecido do relógio , ou o relógio 
 se tenha esquecido  de lhe dar o tempo certo .
Talvez  o carro não pegasse , ou tenha ficado 
avariado  a meio do caminho .
Talvez alguém lhe telefonasse  quando ia sair de casa ,
dizendo-lhe que tinha de ir a um funeral ou que
a mãe dele  tinha  morrido .
Talvez  tenha encontrado  um antigo conhecido .
Talvez tenha tido uma discussão no emprego ,
tenha sido despedido  e esteja a esconder  a
cabeça  debaixo de uma almofada .
Talvez a ponte tivesse  fechada e a seguinte também .
Talvez o semáforo  permanecesse  vermelho .
Talvez o multibanco tenha engolido o cartão  ou
a meio do caminho  tenha reparado que esquecera
o porta-moedas .
Talvez tenha perdido os óculos , não conseguisse
deixar de ler , houvesse um programa  que ele
queria acabar de ver , não conseguisse  dar 
a volta à fechadura da porta , não encontrasse
as chaves em sítio  nenhum  e o cão dele começasse
a vomitar .    
Talvez não houvesse um telefone por perto , 
não encontrasse o restaurante  ou esteja à espera
em outro sítio , por engano .
Talvez - a última possibilidade ,
incompreensível  e inesperada -
ele tenha  deixado de me amar ."

Hagar Peeters ,
 poeta holandesa , nascida em 
Amsterdã-1972

Tradução  de 
Maria Leonor Raven-Gomes 

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19 comentários:

  1. Um post muito belo!
    Desde a imagem escolhida para ilustrar um poema excelente e muito realista, até à música, tudo muito bom.
    Gostei muito, Marisa.
    Boa semana, e até sempre!
    Continua com esta excelente divulgação de grandes poetas!
    xx

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    1. Laura , como sempre, suas generosas palavras me alegram . Obrigada . Beijos

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  2. Talvez....a incerteza que assombra os apaixonados. Na ansiedade da espera, busca-se motivos mil para justificar a demora ou a ausência do ser amado, até mesmo a alternativa mais dolorosa e decepcionante, que é a de não se sentir mais amada
    Bela poesia de Hagar Peeters e linda música.
    Perfeita ilustração.

    Feliz semana.

    Beijo.

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    1. Vera Lúcia , gosto bastante da colocação do talvez no poema . Muitas vezes procuramos todas as possibilidades para não admitir o término de um amor . Agradeço a visita . Beijos

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  3. Gosto da pintura que ilustra este belo poema de incertezas que assombram os apaixonados como diz a Vera.
    Um abraço e boa semana.

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    1. Realmente , Francisco . As incertezas que assombram . Abraços .

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  4. Poesia dos questionamentos... Não conhecia essa poetisa! Beleza! Linda semana,bjs, chica

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    1. Chica , conheci alguns poemas de Hagar Peeters há pouco tempo . Gostei bastante e partilho com vocês . Beijos

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  5. tantas possibilidades... e impossibilidades!

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  6. Oi Marisa,viajei nesse conto poético.
    Muito lindo.
    Bjs e uma ótima semana.
    Carmen Lúcia.

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    1. Bom que também tenha gostado , Carmen Lúcia . Obrigada pela visita . Beijos

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  7. OI MARISA!
    UM CORAÇÃO, VIAJANDO NOS DESENCONTROS DA VIDA.
    LINDO DEMAIS.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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    1. Zilani , uma espera repleta de preocupação , não é ? Beijos e obrigada .

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  8. Boa tarde, maravilhosa composição poética que não tem talvez.
    AG

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    1. António , a possibilidade de sim ou não , faz do poema um encontro ou desencontro , concorda ? Grande abraço .

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  9. Nilda Maria , muito me alegra que tenha aprovado minhas escolhas no
    Blog . Venha mais . Venha sempre , Fui conhecer seu espaço e já sou seguidora , Grande abraço .

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  10. Muito interessante este poema (ainda não há muito escrevi um textito à volta do Talvez; está divulgado no blogue); este advérbio é poderoso na sua semântica.
    Parabéns pela(s) escolha(s).
    BJO, Marisa :)

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  11. Odete , feliz com sua visita . Obrigada . Beijos .

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