terça-feira, 13 de março de 2012

POEMA CIRCENSE




" Atirei meu coração às areias do circo

como se atira ao mar uma âncora aflita .

Ninguém bateu palmas .

O trapezista sorriu , o leão farejou-me

desdenhosamente ,o palhaço zombou

de minha sombra fatídica .



Só a pequena bailarina compreendeu .

Em suas mãos de opala , meu coração

refletia as nuvens de outono ,

os jogos de infância , as vozes populares .



Depois de muitas quedas , aprendi .

Sei agora vestir com razoável destreza ,

os risos da hiena , a frágil polidez dos

elefantes , a elegância marinha dos corcéis .


Todavia , quando as luzes se apagam ,

readquiro antigos poderes e voo .

Voo para um mundo sem espelhos falsos ,

onde o sol devolve a cada coisa

a sombra natural e onde não há aplausos,

porque tudo é justo , porque tudo é bom ."



José Paulo Paes

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