Arrumando minhas estantes achei o livro da
escritora portuguesa Faíza Hayat ,
" o evangelho segundo a serpente " , e , ao abrí-lo ,
novamente , detive-me no prefácio de Mia Couto :
" Encontrei Faíza num lugar de desencontros :
na cabine de um avião . Viajávamos ambos de
Maputo para a Ilha de Moçambique .
Eu seguia numa das minhas
expedições biológicas cujo fim era coletar
búzios , raízes , amostras de fauna .
Ela ia coletar pedaços da sua própria vida ,
procurando por vozes , ecos de uma existência
infinitamente repartida e hibridizada .
Quando o avião levantou , a sua mão procurou
o meu braço e cravou as unhas para vencer
o medo de voar .
Depois , quando narrou partes de sua história ,
fui eu que levantei vôos a ponto de lhe
dizer : " Você devia escrever isto. "
Ela sorriu e a malícia desse riso triste
me fez suspeitar que ela fosse escritora .
A meio da viagem me dei conta : Faíza Hayat
estava desviando o avião .
As histórias que me contava faziam-me voar
em outra direção , para outros encantados
destinos . O meu destino não era mais a ilha .
Viajava , sim , pelos relatos de uma mulher
extraordinária , repartida entre Goa , a Europa
e África , uma costureira de lembranças e de
identidades ."
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