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" Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim
Não me valeu
Mas fico com o disco do Pixinguinha , sim ?
O resto é seu
Trocando em miúdos , pode guardar
As sobras de tudo que chamam lar
As sombras de tudo que fomos nós
A marca de amor nos nossos lençóis
As nossas melhores lembranças
Aquela esperança de tudo se ajeitar
Pode esquecer
Aquela aliança , você pode empenhar
Ou derreter
Mas devo dizer que não vou lhe dar
O enorme prazer de me ver chorar
Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago
Meu peito tão dilacerado
Aliás
Aceite uma ajuda do seu futuro amor
Pro aluguel
Devolva o Neruda que você me tomou
E nunca leu
Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira , muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde "
Francis Hime- Chico Buarque
" Se chorasse agora,
o mar inteiro
me entraria pelos olhos ."
" Ora veja… é o que sempre acontece às
pessoas românticas:
enfeitam uma criatura, até o último momento,
com penas de pavão,e não querem ver, nela,
senão o que é bom, muito embora sentindo
tudo ao contrário.
Jamais querem, antecipadamente, dar às coisas
o seu devido nome.
Essa simples idéia lhes parece insuportável .
A verdade, repelem-na com todas as forças
até o momento em que aquela pessoa,
engalanada por elas próprias,
lhes mete um murro na cara.”
Fiodor Dostoiévski, in " Crime e Castigo "
" Se quem luta por um mundo melhor
soubesse que toda revolução começa
por revolucionar antes a si próprio.
(...)
Se as diferenças fossem aceitas
naturalmente e só nos defendêssemos
contra quem nos faz mal .
(...)
Se as pessoas fossem seguras o
suficiente para tolerar opiniões
contrárias às suas sem precisar
agredir e despejar sua raiva .
( ...)
Se fôssemos mais divertidos para
nos vestir e mobiliar nossa casa ,
e menos reféns de convencionalismos.
(...)
Se todos lessem bons livros .
(...)
Se mudássemos o foco e concluíssemos
que infelicidade não existe , o que
existe são apenas momentos infelizes .
(...)
Se em vez de lutar para não
envelhecer , lutássemos para não
emburrecer .
Se. "
Martha Medeiros , in " Feliz por nada"
" por saber como tudo terminaria ,
eu rejeitei o futuro.
a história fica mesmo por aqui .
incompleta .
eu , hoje cortei dois pontos dessas
nossas reticências e deixei apenas um .
o final ."
Eduardo Baszczyn
" Você adentra a floresta em seu ponto mais
sombrio , no qual não há trilha .
Se há trilha ou caminho , é a trilha de outra
pessoa .
Você não estará em seu próprio caminho .
Se seguir o caminho alheio , não concretizará
seu potencial ."
" Não porque a todo momento surjam
perigos na vida , mas porque a vida
é em si mesma perigosa .
Não que o perigo se acrescente ao viver;
neste é que está o perigo .
A vida é constitutivamente perigo
porque viver é dirigir-se ao futuro
e este paira em nosso caminho como
horizonte de total incerteza e
insegurança ,eclosão de plenititude ou
abismo de aniquilamento.
O perigo nos tira de nossos cômodos ,
obriga-nos a sair de nós mesmos para
sabermos o que se passa , projeta-nos
para fora e para frente , em estado
máximo de alerta . E isto é decisivo:
projetar-me para além de mim mesmo, por
força do perigo .
Viver é projetar-me para fora de mim,
rumo ao horizonte trepidante do futuro;
constante perigo , permanente vigilância ."
Gilberto de Mello Kujawski ,in " Viver é Perigoso"
"Sofro pela espera longa e infundada ,
pela flecha que saiu sem dar em nada ,
pelo remo que quebrou sem navegar ,
pela rocha que tombou , partiu-se ao meio
e brotou pedras onde eu quis colher centeio
pela manhã que amanheceu sem se deitar .
Escuto a cotovia que insinua
que o cravo morreu, mas a terra continua .
Bendigo o chão por cada grão e me comovo.
Parto de novo ."
Flora Figueiredo
" Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
E a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não se esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu peão
tua coisa tua rocha
Sim , eu estarei aqui ."
Paulo Leminski , in " O ex-estranho"
" Ouso acreditar que a alegria interior tem
certa força secreta que torna a sorte mais
favorável . ...
As coisas que faço com um coração alegre e
sem nenhuma repugnância exterior tem o
costume de me acontecer favoravelmente ,
a tal ponto que nos jogos de azar , em que
só reina a sorte , sempre a tive mais
favorável quando me acompanhavam motivos
de alegria do que de tristeza ."
René Descartes , in " Desperta e Lê "
de Fernando Savater
" ... Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas ."
" E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais ..."
Vinícius de Moraes
" Casal inteligente enriquece junto ?
Por favor , dá um desconto .
É confundir a relação com um negócio .
Daí não será um namorado , mas um sócio .
Daí não será uma namorada , mas uma investidora .
Retire o interesse dos dois , não sobrará
coisa alguma . A única sintonia é a carreira .
Alguns vão delirar que é amor , mas chegue perto
com o olfato : o perfume excessivo é ambição .
Amor mesmo é empobrecer junto , se for o caso .
É fracassar e continuar tentando .
É respeitar os caminhos e vocações diferentes .
É não ter medo de começar com um colchonete
no chão - e ir subindo aos poucos .
Não aguardar o melhor momento , ficar ao lado
até que a sorte venha ou não venha ."
" quero fazer um verso
com todos os elementos
meus encantos
meus lamentos
que atravesse
ares e mares
e te alcance
e te arranque
de todos os pensamentos ."
" E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida :
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida ,
ver a fábrica que ela mesma ,
teimosamente , se fabrica ,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida ."
João Cabral de Melo Neto,
in " Morte e Vida Severina " <
" Segundo o taoísmo , a vida é assim :
somos pequenos barcos de velas brancas
no mar desconhecido . Os remos são inúteis .
A força dos elementos é maior que a
nossa força .
Gosto de ver os urubus voando nos prenúncios
de tempestade . Eles não batem asas .
Não lutam contra o vento.
Flutuam , deixam-se levar .
A sabedoria dos barcos a vela é a mesma
sabedoria dos urubus . Brincar com vento e onda ,
vela e leme , e deixar-se ser levado .
A sabedoria suprema não é fazer - remar - ,
mas fazer nada ,deixar-se levar pelo mar
da vida que é mais forte .Eu nunca consegui chegar
a lugar algum usando remos .
Sempre fui levado por uma força mais forte
que minha razão a praias com que nunca
havia sonhado .
Foi assim que me tornei escritor , porque o mar
foi mais forte que meu plano de viagem ."
in , " Se eu pudesse viver minha vida novamente ..."
" Quando escrevo , repito o que já vivi antes .
E para estas duas vidas , um léxico só não
é suficiente .
Em outras palavras , gostaria de ser
um crocodilo vivendo no rio São Francisco .
Gostaria de ser um crocodilo porque amo os
grandes rios , pois são profundos como a alma
de um homem .
Na superfície são muito vivazes e claros , mas
nas profundezas são tranquilos e escuros como
o sofrimento dos homens ."
" Que a estrada ensine o melhor caminho .
Que o vento esteja sempre em suas costas .
Que o sol ilumine seu rosto .
Que a chuva fertilize seu campo .
E até que nos encontremos de novo ,
Que Deus lhe guarde na palma da mão ."
" Que Deus nos dê
para cada tempestade , um arco-íris .
Para cada lágrima , um sorriso .
Para cada gesto de ternura , uma promessa .
E uma benção em cada momento difícil .
Que tenhamos sempre um amigo fiel
para dividir nossos problemas .
E que cada oração seja sempre
escutada e respondida ."
" Os anjos não dão de ombros , não ;
quando querem mostrar indiferença ,
os anjos dão de asas ."
Mario Quintana , in " Caderno H "
" Há noites em que não posso dormir
de remorsos por tudo o que deixei de cometer ..."
Mario Quintana , in "Caderno H"
" Eu já tive e perdi
uma casa ,
um jardim ,
uma soleira ,
uma porta ,
um caixão de janela com um perfil .
Eu sabia uma modinha e não sei mais .
Quando a vida dá folga , pego a querer
a soleira ,
o portal ,
o jardim da casa ,
o caixão de janela e aquele rosto de banda.
Tudo impossível
tudo de outro dono ,
tudo de tempo e vento .
Então me dá choro , horas e horas ,
o coração amolecido como um figo na calda ."
Adélia Prado
" Se cada dia cai ,
dentro de cada noite ,
há um poço
onde a claridade está presa .
há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar a luz caída
com paciência ."
Pablo Neruda ,
in " Últimos Poemas"
" É tão vasto o silêncio da noite na montanha.
É tão despovoado.
Tenta-se em vão trabalhar para não ouvi-lo,
pensar depressa para disfarçá-lo.
Ou inventar um programa, frágil ponto que mal
nos liga ao subitamente improvável
dia de amanhã.
Como ultrapassar essa paz que nos espreita.
Silêncio tão grande que o desespero tem pudor.
Montanhas tão altas que o desespero tem pudor.
Os ouvidos se afiam, a cabeça se inclina,
o corpo todo escuta: nenhum rumor.
Nenhum galo.
Como estar ao alcance dessa profunda meditação
do silêncio. Desse silêncio sem lembranças de
palavras. Se és morte, como te alcançar.
É um silêncio que não dorme: é insone:
imóvel mas insone; e sem fantasmas.
É terrível – sem nenhum fantasma.
Inútil querer povoá-lo com a possibilidade
de uma porta que se abra rangendo,
de uma cortina que se abra e diga alguma coisa.
Ele é vazio e sem promessa.
Se ao menos houvesse o vento.
Vento é ira, ira é a vida. Ou neve.
Que é muda mas deixa rastro –
tudo embranquece,as crianças riem,
os passos rangem e marcam.
Há uma continuidade que é a vida.
Mas este silêncio não deixa provas.
Não se pode falar do silêncio como
se fala da neve.
Não se pode dizer a ninguém como
se diria da neve:
sentiu o silêncio desta noite?
Quem ouviu não diz. "
Clarice Lispector , in " Onde estivestes de noite ?"
" Todos os dias atravessamos a mesma rua ou
o mesmo jardim ; todas as tardes nossos olhos
batem no mesmo muro avermelhado feito de
tijolos e tempo urbano .
De repente , num dia qualquer ,a rua dá para um
outro mundo , o jardim acaba de nascer ,
o muro fatigado se cobre de signos.
Nunca os tínhamos visto e agora ficamos
espantados por eles serem assim :
tanto e tão esmagadoramente reais .
Não , isso que estamos vendo pela primeira vez ,
já havíamos visto antes .
Em algum lugar , onde nunca estivemos ,
já estavam o muro , a rua , o jardim.
E à surpresa segue-se a nostalgia .
Parece que recordamos e quereríamos voltar
para lá , para esse lugar onde as coisas
são sempre assim , banhadas por uma luz
antiquíssima e ao mesmo tempo acabada de nascer .
Nós também somos de lá .
Um sopro nos golpeia a fronte .
Estamos encantados ...
Adivinhamos que somos de um outro mundo ."
" Um homem que cultiva seu jardim ,
como queria Voltaire .
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sur jogam
um silencioso xadrez .
O ceramista que premedita uma cor e uma forma .
O tipógrafo que compõe bem esta página ,
que talvez não lhe agrade .
Uma mulher e um homem que leem os tercetos
finais de um certo canto .
O que acaricia um animal adormecido .
O que justifica ou quer justificar um mal
que lhe fizeram .
O que agradece que na terra haja Stevenson .
O que prefere que os outros tenham razão .
Essas pessoas , que se ignoram ,
estão salvando o mundo ."
Jorge Luís Borges
“ Meus olhos eram mesmo água ,
- te juro-
mexendo um brilho vidrado ,
verde-claro , verde-escuro .
Fiz barquinhos de brinquedo
- te juro-
fui botando todos eles
naquele rio tão puro .
Veio vindo a ventania
-te juro –
as águas mudam seu brilho ,
quando o tempo anda inseguro .
Quando as águas escurecem
- te juro –
todos os barcos se perdem ,
entre o passado e o futuro .
São dois rios os meus olhos
- te juro –
noite e dia correm, correm ,
mas não acho o que procuro “
Cecília Meireles , in " Cantiguinha "
(...)
" Cresci brincando no chão , entre formigas .
De uma infância livre e sem comparamentos .
Eu tinha mais comunhão com as coisas do que
comparação . Porque se a gente fala a partir
de ser criança , a gente faz comunhão :
de um orvalho e sua aranha , de uma tarde e
suas garças , de um pássaro e sua árvore .
Então eu trago das minhas raízes crianceiras
a visão comungante e oblíqua das coisas .
Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina.
É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo
sem pudor . Eu tenho que essa visão oblíqua vem
de eu ter sido criança em algum lugar perdido
onde havia transfusão da natureza e comunhão
com ela . Era o menino e os bichinhos .
Era o menino e o sol . O menino e o rio.
O menino e as árvores ."
Manoel de Barros , in " Memórias Inventadas "
" Hoje eu completei oitenta e cinco anos .
O poeta nasceu de treze .
Naquela ocasião escrevi uma carta aos meus pais,
que moravam na fazenda , contando que eu já
decidira o que queria ser no meu futuro .
Que eu não queria ser doutor.
Nem doutor de curar nem doutor de fazer casa
nem doutor de medir terras .
Que eu queria ser fraseador .
Meu pai ficou meio vago depois de ler a carta.
Minha mãe inclinou a cabeça .
Eu queria ser fraseador e não doutor .
Então , meu irmão mais velho perguntou :
Mas esse tal de fraseador bota mantimento em casa?
Eu não queria ser doutor, eu só queria ser fraseador.
Meu irmão insistiu :
Mas se fraseador não bota mantimento em casa,
nós temos que botar uma enxada na mão
desse menino pra ele deixar de variar.
A mãe baixou a cabeça um pouco mais .
O pai continuou meio vago .
Mas não botou enxada ."
Manoel de Barros , in " Memórias Inventadas "
" Sentir tudo de todas as maneiras,
Ter todas as opiniões ,
Ser sincero contradizendo-se a cada minuto ,
Desagradar a si próprio pela plena liberdade
de espírito ,
E amar as coisas como Deus. "
Álvaro de Campos , in " Passagem das horas "
"Aquele que beija a alegria
enquanto ela voa
Vive no amanhecer da eternidade ."
"Quando estamos nos degraus mais baixos
da escada do pesar , nós choramos .
Quando chegamos à metade dela ,nós emudecemos .
Mas quando alcançamos o topo da escada
do pesar ,nós convertemos a tristeza em canto ."
Poema hebraico
" Segue o teu destino ,
Rega as tuas plantas ,
Ama as tuas rosas .
O resto é a sombra
De árvores alheias ."
Fernando Pessoa , sob o
heterônimo de Ricardo Reis
" Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental ,
Mas reconheço , ao medir-me ,
Que tudo isso é pensamento ,
Que não senti afinal .
Temos , todos que vivemos ,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada ,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada .
Qual porém é a verdadeira
E qual errada , ninguém
Nos saberá explicar ;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar ."
Fernando Pessoa
" A moça do arame
equilibrando a sombrinha
era de uma beleza instantânea e fulgurante !
A moça do arame ia deslizando e
despindo-se
Lentamente.
Só para judiar .
E eu com olhos cada vez mais arregalados .
Até parecerem dois pires:
Meu tio dizia :
" Bobo !
Não sabes
que elas sempre trazem uma roupa de malha
por baixo ?"
( Naqueles voluptuosos tempos não havia
maiôs nem biquínis ...)
Sim ! Mas toda a deliciante angústia
dos meus olhos virgens segredava-me
sempre :
" Quem sabe ? "
Eu tinha oito anos e sabia esperar.
Agora não sei esperar mais nada .
Desta nem da outra vida ,
No entanto
o menino
( que não sei como insiste em não morrer
em mim )
ainda e sempre
apesar de tudo
apesar de todas as desesperanças ,
o menino
às vezes
segreda-me baixinho
" Titio , quem sabe ?..."
Ah , meu Deus , essas crianças ."
Mario Quintana