quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Octavio Paz



" Todos os dias atravessamos a mesma rua ou

o mesmo jardim ; todas as tardes nossos olhos

batem no mesmo muro avermelhado feito de

tijolos e tempo urbano .

De repente , num dia qualquer ,a rua dá para um

outro mundo , o jardim acaba de nascer ,

o muro fatigado se cobre de signos.

Nunca os tínhamos visto e agora ficamos

espantados por eles serem assim :

tanto e tão esmagadoramente reais .

Não , isso que estamos vendo pela primeira vez ,

já havíamos visto antes .

Em algum lugar , onde nunca estivemos ,

já estavam o muro , a rua , o jardim.

E à surpresa segue-se a nostalgia .

Parece que recordamos e quereríamos voltar

para lá , para esse lugar onde as coisas

são sempre assim , banhadas por uma luz

antiquíssima e ao mesmo tempo acabada de nascer .

Nós também somos de lá .

Um sopro nos golpeia a fronte .

Estamos encantados ...

Adivinhamos que somos de um outro mundo ."

Nenhum comentário:

Postar um comentário