domingo, 6 de novembro de 2011

Manoel por Manoel



(...)

" Cresci brincando no chão , entre formigas .

De uma infância livre e sem comparamentos .

Eu tinha mais comunhão com as coisas do que

comparação . Porque se a gente fala a partir

de ser criança , a gente faz comunhão :

de um orvalho e sua aranha , de uma tarde e

suas garças , de um pássaro e sua árvore .

Então eu trago das minhas raízes crianceiras

a visão comungante e oblíqua das coisas .

Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina.

É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo

sem pudor . Eu tenho que essa visão oblíqua vem

de eu ter sido criança em algum lugar perdido

onde havia transfusão da natureza e comunhão

com ela . Era o menino e os bichinhos .

Era o menino e o sol . O menino e o rio.

O menino e as árvores ."



Manoel de Barros , in " Memórias Inventadas "

Nenhum comentário:

Postar um comentário